Melody: piada ou promessa do pop?

A cantora paulista Melody divulgou na última sexta-feira (16) sua colaboração com Naldo Benny e Matheus Alves, “Love Love”, junto com o clipe oficial que já consta com mais de um milhão de visualizações no Youtube. A música usa sample do clássico dos anos 2000, “Kiss Kiss” de Chris Brown e recebeu aprovação do mesmo para ser lançada.

Elogiada pelos internautas, a canção indica mais um acerto na carreira da adolescente que recentemente se tornou a artista mais jovem a conseguir a 1ª posição no Spotify Brasil com o hit “Pipoco”, sua parceria com a boiadeira Ana Castela. Para alguns, a transição de “menina dos memes de falsete” para colecionadora de sucessos pode parecer repentina, mas é apenas uma amostra do que uma boa – porém questionável – estratégia de marketing pode causar.

A jovem foi ridicularizada desde seus primeiros passos na internet, fosse pelo seus agudos desafinados ou pela sua obsessão com a Anitta, era comum ver uma notícia sobre a menina em algum portal ou seu nome nos trends topics do Twitter. Um dos casos mais emblemáticos foi quando sua equipe anunciou em 2015 um futuro feat com a intérprete de “Envolver”, uma mentira desmentida pela própria Anitta.

O empresário de Melody é também o seu pai e muitos talvez se perguntem a razão dele ter submetido a filha a tantas situações de chacota, porém o motivo é claro: era tudo parte de um plano.

Melody tinha apenas oito anos quando isso aconteceu, jovem demais para ser sensualizada ou para construir uma carreira séria na música, mas com idade o bastante para ter seu nome fixado na mente dos internautas que sempre compartilhavam e riam dos absurdos ditos por ela. Depois, conforme ela crescia, era muito mais fácil trabalhar singles e projetos já tendo seu nome em evidência.

Em 2019 saía o clipe de “Tô Bem, Tô Zen” com Viih Tube e Gregory Kessey como protagonistas, gerando o interesse do público pré-adolescente e rendendo mais de 150 milhões de visualizações. Era o primeiro trabalho dela que realmente foi consumido e levado em consideração pela internet. Desde então, conquistou alguns outros feitos, como em “No Batidão” ou “Assalto Perigoso”, mas sempre com polêmicas.

Assalto Perigoso, atualmente com 56 milhões de reproduções no Spotify, utilizava a melodia de “Positions” da americana Ariana Grande sem qualquer autorização ou créditos. Melody chegou a se gabar afirmando que era a única brasileira com uma colaboração com a Ariana, mais uma vez inventando parcerias inexistentes.

“Fake Amor” plágio de “Faking Love” de Anitta sequer pôde entrar nas plataformas, foi derrubada pela gravadora da carioca por conta dos direitos autorais. A adolescente veio à internet em prantos pedindo para a música ser liberada, o que não ocorreu, e, atualmente, diz que Anitta foi burra por não ter deixado a faixa sair.

“Como eu disse, eu sempre achei ela muito esperta, mas nessa parte ela é um pouquinho burra porque ela ia ganhar o Grammy comigo, entendeu? Só falta o feat! Ela tá bobeando”

Melody em entrevista à rádio Metropolitana.

Nessa semana, MC Belinho, pai da cantora, criticou a sertaneja Ana Castela por não reconhecer a importância que a Melody teve para sua carreira. As duas colaboraram em “Pipoco”, canção que deu destaque a sul-mato-grossense, mas que também é o maior sucesso da paulista.

Curiosamente (ou não) a fala coincidiu com o lançamento de “Love Love” o que gera notas na imprensa que vão colocar o nome de sua filha em destaque justo no período de divulgação do novo single dela. Fica claro, então, que polemizar para dar evidência a Melody ainda é a principal estratégia dos dois, mas até quando isso vai ser sustentável?

É difícil imaginar Anitta entrando num estúdio para gravar com ela ou até a Ana Castela aceitando uma nova participação. Quem não tem nada a perder, como Naldo, pode até aceitar um feat e a música pode conseguir bons números, no entanto, nenhum artista com carreira consolidada vai querer ter sua imagem veiculada a alguém que sobrevive de controvérsias para aparecer.

As últimas canções dela tem se mostrado boas e apontado um potencial enorme para seu futuro, mas o gerenciamento de sua carreira é tudo o que a impede de se tornar um fenômeno no Brasil e a limita a uma piada.