E ela não volta mais? A decaída de Pabllo Vittar

E ela não volta mais? A decaída de Pabllo Vittar

A ascensão de Phabullo Rodrigues da Silva, mais conhecida como Pabllo Vittar, foi bem rápida se comparada a de outros artistas pop. Após o lançamento de seu primeiro EP, “Open Bar”, o percurso até “Todo Dia” e “K.O.” foi curto, colocando-a debaixo dos holofotes de todo o país.

K.O., lançada em abril de 2017, foi usada como terceira canção de trabalho do álbum de estreia da maranhense, “Vai Passar Mal”, e quebrou recordes, não só em sua carreira, mas para a comunidade de artistas LGBT.

A música venceu o prêmio “Melhores do Ano”, exibido pela TV Globo, e o clipe, além de ser indicado na principal categoria do Prêmio Multishow de Música Brasileira, também se tornou o mais visto da história por uma drag queen, ultrapassando a americana RuPaul, dona de um dos maiores reality shows do mundo. Atualmente supera a casa das 400 milhões de visualizações.

A faixa foi seguida de outro grande sucesso, “Corpo Sensual”, e a despontada de Vittar no cenário musical lhe trouxe parcerias de peso como o single “Sua Cara”, com Anitta e Major Lazer, e “I Got It”, com Charlie XCX.

Depois, a performer ainda conseguiu bons números com o álbum “Não Para Não” (2018), com “Disk Me” atingindo a vice-liderança do Spotify Brasil, e com “Parabéns” e “Amor de Que” se tornando hits no disco 111 (2020). No entanto, em seus últimos lançamentos, os feitos de Pabllo têm se tornado cada vez menos relevantes, enquanto a pressão dos fãs nas redes sociais aumenta.

OS ÚLTIMOS LANÇAMENTOS

Pabllo Vittar (centro) ao lado de Rebecca (esquerda) e Vivi (direita) no clipe de “AEIOU”.

Esse ano, Pabllo fez participações em dois singles: “AEIOU”, com Rebecca e Vivi, e “Sereia”, com Lia Clark.

Mesmo com a canção sendo incluída na playlist “Pop Brasil”, a maior do gênero no Spotify, seu desempenho foi extremamente fraco, ultrapassando o primeiro milhão somente após um mês de lançamento.

Claro, isso poderia ser motivado pela baixa aceitação da música, que foi muito criticada pela letra imatura e considerada desconexa pelo público. No entanto, “Sereia”, lançada na penúltima quinta-feira (06), foi aclamada pelos fãs das duas drag queens e, apesar disso, ficou fora do top 50 da parada brasileira na sua estreia e provavelmente não entrará no futuro.

A situação se agrava quando analisamos os números dos últimos dois álbuns da cantora e os comparamos com seus trabalhos anteriores.

“Batidão Tropical” (2021) veio com a proposta de exaltar as origens da interprete. Por isso, seis das faixas encontradas no CD são regravações de sucessos da região norte e nordeste dos anos 2000. A ideia, embora interessante, não conseguiu fisgar a atenção dos ouvintes como deveria.

A primeira canção de trabalho, “Ama Sofre Chora”, estreou na décima quarta posição do Spotify, número que, à primeira vista, parece bom, mas é inferior aos de “Problema Seu” (Não Para Não) e de “Flash Pose” (111), que atingiram, respectivamente, a oitava e quinta colocação.

Em minha opinião, o single não era forte o suficiente para apresentar um álbum ao público. Seria melhor talvez ter escolhido “Triste com T”, que atualmente é a mais reproduzida do projeto.

Foto promocional de “Ama, Sofre, Chora”.

Outra bola fora, sem dúvida, foi a de não ter investido em “Zap Zum” da maneira correta. Durante os Jogos Olímpicos de Verão de 2020, a música recebeu muita atenção por tocar durante os jogos de vôlei da seleção masculina do Brasil, mas não obteve o devido investimento pela equipe de Pabllo que, no lugar, lançou um clipe para “Bang Bang”.

O erro fica claro quando se vê que o clipe oficial de “Bang Bang” possuí menos da metade de visualizações que o áudio de “Zap Zum” no Youtube.

Se o cenário já não estava dos melhores, piorou muito com o CD seguinte. “Noitada” (2023) chegou com uma estética e sonoridade totalmente diferente de seu antecessor, tendo uma forte influência da música eletrônica e visuais mais sombrios.

“Noitada” colocou apenas 5 das 11 músicas no top 50 do Brasil nas suas primeiras 24 horas, contrastando com “Não Para Não” ou até mesmo “Batidão Tropical”, que conseguiram colocar todas. Mesmo com parcerias fortes, como Gloria Groove e Anitta, Pabllo não conseguiu grandes hits nessa era.

Muitos alegam em defesa do álbum dizendo que, como foi feito para baladas e para curtir, a qualidade da produção ou das composições não importa, que o que basta é ser bom para dançar. Eu discordo, pois uma coisa não anula a outra.

Pabllo no clipe de “Cadeado”, terceiro single do “Noitada”.

“Balinha de Coração”, para exemplificar, é um regresso se pensarmos que ela e Anitta juntas já foram capazes de lançar “Sua Cara” e “Modo Turbo”. O fato do álbum ter 11 faixas e só 22 minutos de duração também deixa um gosto amargo na boca, soa como algo descartável e imemorável.

Imemorável, por sinal, talvez seja o termo certo para usar a tudo que a artista tem participado ultimamente. Seja no remix de “S de Saudade” com Vitão ou na tenebrosa “Sal” com Pedro Sampaio, duas que o público não engajou na época, nem se lembrando mais hoje em dia.

BOICOTES E QUESTÕES DE PRECONCEITO

Sempre que alguém aponta o atual estado da carreira da Pabllo Vittar, aparece algum fã para dizer que não podemos exigir números altos de uma drag queen, pois um homem gay no Brasil sempre vai encontrar inúmeras dificuldades na indústria.

Tal afirmação não é totalmente equivocada. Nosso país é extremamente conservador, e só o fato de um artista masculino de peruca e salto ter conseguido chegar tão longe, por si só já é impressionante.

Porém, apesar dos boicotes que acontecem em rádios e eventos, não dá para atribuir o declínio dela apenas à homofobia.

Pabllo continua indo em programas da TV Globo, maior emissora do país, aparecendo seja para fazer show na casa do Big Brother Brasil ou cantar no Caldeirão com Mion, indicando que visibilidade e espaço para divulgação é algo que ela ainda tem.

A maior quebra desse argumento, no entanto, é a existência de Gloria Groove e de seu álbum lançado ano passado, “Lady Leste”.

Gloria também é drag, também encontra os mesmos desafios de qualquer outra pessoa da comunidade, mas isso não a impediu de colecionar sucessos como “Vermelho” e “A Queda”. Sendo assim, o que diferencia as duas? Por que uma está em seu auge enquanto a outra se encontra em seu pior momento?

Gloria Groove no clipe de “Bonekinha”.

Não é uma pergunta que eu possa responder com toda a certeza, mas há espaço para hipóteses. Primeiro, é interessante ver como Vittar transita entre gêneros, indo do forró ao eletrônico, logo, não dá para acusá-la de ficar na mesmice.

Porém, um ponto a se levantar é de como Gloria Groove consegue furar a bolha LGBT e ser apreciada por outros nichos de uma forma que a dona de “K.O.” raramente experimentou. Talvez seja pela proximidade que Gloria tem com o hip-hop e o funk, ou a escolha de parcerias.

Em “Lady Leste” temos colaborações com Sorriso Maroto, grupo de pagode, com MC Hariel, destaque do funk paulista, e até com Priscilla Alcantara, que por muitos anos foi voz da música gospel jovem. Desse modo, a aceitação da artista se torna mais fácil e fortalece sua presença em diferentes espaços.

DEMANDA DOS FÃS E O BOTÃO DE BLOQUEIO

Aqui, talvez tenhamos chegado no ponto principal que está levando uma promessa da música nacional a ser esquecida. Um gerenciamento de carreira ruim, que não escuta o público.

Na internet, todos agem como se fossem especialistas em tudo quanto é assunto, não sendo diferente para o fandom de música, que se sente mais conhecedor do que as gravadoras e os agentes. Todavia, ignorar totalmente o que seus ouvintes estão dizendo não é o caminho certo, pelo contrário.

Os vittarlovers, como são conhecidos os fãs de drag, têm reclamações constante a respeito dos passos que são dados pela cantora. Um caso muito recorrente é o protesto pela falta de uma banda presente durante os shows, o que melhoraria a qualidade das apresentações.

O palco do show de abertura da “Noitada Tour” na Colômbia foi feito de chacota nas redes sociais devido ao tamanho pequeno. Os fãs reclamam e perguntam por que um dos maiores nomes do pop nacional possui uma estrutura inferior à de novatos.

Quando alguém paga ingresso para assistir uma turnê, geralmente o faz para assistir ao cantor e ouvir suas músicas, não se preocupando se a melodia vem de instrumentos ao vivo ou de um pen-drive, nem com a extensão do palco. Mas, vale lembrar, que muitas vezes um show bem trabalhado, com cenários bem produzidos e um conjunto de obra ordenado, é justamente o que desperta o interesse para comparecer ao evento.

Que interesse seria despertado com a condição dos show de hoje dela? Ainda mais sendo uma tour do seu álbum com pior desempenho.

Essa deveria ser a hora de repensar suas estratégias e escutar as reclamações daqueles que dedicam suas vidas acompanhando-a. Só que não é isso que Pabllo tem feito. No lugar, está bloqueando qualquer admirador que a critique.

A situação se tornou tão vergonha que rendeu até memes. O “Block da Pabllo”, jogo de palavras com “bloco” de carnaval, viralizou à medida que mais pessoas eram bloqueadas por ela. Teve fã de longa data entrando para a lista por discordâncias mínimas.

Meme “Block da Pabllo 2023”.

Então, recapitulando: a qualidade das músicas caindo, parcerias importantes sendo desperdiçadas, shows deixando a desejar, e ela e sua equipe ainda consideram de bom tom afastar aqueles que ainda continuam ao seu lado?

Só o tempo pode nos mostrar onde essas atitudes irão levar Pabllo Vittar e sua música, porém, o caminho não parece nada bom. Pode ser que ela esteja dando um K.O. na própria carreira.

Lucas Martins

Nascido em 2002 na cidade do Rio de Janeiro, cresci com paixão pela literatura e pela música. Sou Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Unicarioca e futuro pedagogo pela UERJ. No meu tempo livre, gosto de assistir a filmes e acompanhar cada passo dado por Taylor Swift.

4 thoughts on “E ela não volta mais? A decaída de Pabllo Vittar

  1. numericamente, pode ser que tenha decaído, mas como artista continua interessante, até mais do que muitos nomes do cenário brasileiro. pabllo consegue mesclar gêneros diferentes com mais eficiência do que a anitta, por exemplo. é mais cuidadosa e caprichosa também. apesar de não furar a bolha como a glória (até mesmo por conta do estilo musical), é mais carismática e se sai melhor nas performances. ela tem talento e criatividade. pra mim, o noitada é muito bom. cada um dos álbuns tem suas particularidades. se compararmos o 111, o batidão tropical e o noitada, dá pra notar que são propostas completamente diferentes. ela não soa repetitiva, ao contrário de outros cantores, que há anos lançam várias versões do mesmo projeto; o nome é diferente, mas a fórmula é a mesma, o conceito é o mesmo e não se sustenta artisticamente por muito tempo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.