Os artistas não divulgam mais suas músicas? Por quê?

Os artistas não divulgam mais suas músicas? Por quê?

É inegável o quanto a indústria da música mudou nos últimos anos, seja devido ao surgimento de plataformas de streaming como o Spotify e Apple Music, seja pelas transformações culturais e econômicas da nossa sociedade.

Dessa forma, não apenas a maneira que consumimos álbuns e singles foi afetada, mas também a forma como os artistas trabalham suas eras e as estratégias utilizadas para alavancar as vendas.

Uma das principais reclamações dos fãs atualmente é a falta de divulgação por parte desses cantores, alguns chegam a chamar os ídolos de “preguiçosos”. Hoje, iremos analisar três artistas e a promoção de um de seus álbuns antigos, comparando-o com o mais recente, e tentar responder à pergunta do título.

TAYLOR SWIFT: “1989” X “Midnights”

Mesmo aqueles que não são fãs de Taylor Swift têm conhecimento de que o seu álbum mais bem-sucedido é o “1989”, lançado inicialmente em 27 de outubro de 2014 e que será relançado na mesma data deste ano.

O disco que representou a transição da artista do country para o pop se tornou o mais premiado do gênero na história. Além disso, permaneceu em primeiro lugar na parada de álbuns americanos por 11 semanas e vendeu mais de 12 milhões de cópias mundialmente.

Todo esse sucesso não é meramente resultado da qualidade do projeto, mas também pela divulgação massiva que recebeu.

A era teve início com “Shake It Off” em agosto de 2014 e somente dois anos depois encerrou-se com “New Romantics” se tornando single.

A primeira música de trabalho do álbum foi apresentada em diversas ocasiões televisivas. Ao todo, houve 9 performances somente no mês de outubro, ocorrendo não apenas em território americano, mas também em programas franceses e australianos, espalhando a imagem de Taylor pelo mundo.

A campanha de divulgação manteve-se vigorosa e a cantora fez presença nas principais premiações da música. No American Music Awards (AMA) e no Brits Awards, ela cantou “Blank Space”; no Video Music Awards (VMA), apresentou “Bad Blood” e, no Grammy Awards, brilhou com a performance de “Out Of The Woods”.

“Out Of The Woods” sendo performada por Taylor direto do Grammy.

Se somarmos todas as vezes em que uma música do “1989” foi apresentada, seja em festivais, programas de televisão, especiais e/ou programas de rádio – em resumo, qualquer lugar que não fosse durante uma turnê de Taylor – obtemos um total de 55 ocasiões distintas.

Quanto ao álbum “Midnights”, vocês querem saber a mesma contagem? Bem, ela é de apenas uma vez. Exatamente, Taylor apresentou uma música do seu CD mais recente em ocasiões além dos shows da turnê “The Eras”, sendo essa sua participação especial na turnê da banda 1975, onde ela cantou “Anti-Hero”.

A quantidade de músicas de trabalho também caiu. Foram 7 na era 1989, contrastando com apenas 3 durante a era Midnights.

Isso quando não comparamos com os dois projetos anteriores. Tanto o “Folklore” quanto o “Evermore” só possuem um single cada, sendo esses “Cardigan” e “Willow”, mesmo que outras faixas como “August” e “Champagne Problems” tenham se destacado.

A maior vitrine para o álbum acaba sendo mesmo a “The Eras Tour”, que está tendo impacto em toda a discografia da americana, mas se resume praticamente a isso.

BEYONCÉ: “I Am… Sasha Fierce” X “Renaissance”

Agora, vamos realizar a mesma análise com outra cantora renomada, a Beyoncé. Sua era atual, “Renaissance”, possui quatro singles oficiais. Nenhum deles, no entanto, recebeu um clipe oficial ou uma performance televisionada.

Há mais de um ano os fãs esperam pelos registros visuais do álbum, contudo, a reposta mais recente que receberam da diva é que “uma rainha trabalha no seu tempo”. Atualmente, está viajando o mundo na turnê do disco.

O cenário era muito diferente em 2008 quando “I Am… Sasha Fierce” dominava as paradas. Para começar, foram 9 singles em um período de 2 anos. Um número impressionante quando vemos que, hoje em dia, raramente um artista passa do 3º single de uma era.

Desta forma, clássicos do pop como “Halo” e “If I Were a Boy” receberam o reconhecimento que mereciam. Essa última foi performada no palco do Grammy Awards em 2010.

“If I Were a Boy” também deu as caras na MTV Europe Music Awards em 2008. No ano seguinte, Beyoncé apresentou “Sweet Dreams”.

Se compararmos da mesma maneira que fizemos com a Taylor temos o seguinte resultado: houve um total de 50 ocasiões em que músicas do álbum “I Am…” foram apresentadas.

Por outro lado, o álbum “Renaissance” registra um total de 0 apresentações fora da sua turnê oficial. Sim, você leu corretamente, zero apresentações.

MILEY CYRUS: “Bangerz” X “Endless Summer Vacation”

Miley Cyrus é detentora de um dos maiores hits do ano, “Flowers”, e isso é incontestável. A canção serviu como carro-chefe de seu oitavo álbum, “Endless Summer Vacation”.

Duas outras músicas se tornaram singles posteriormente, são elas “River” e “Jaded”. Provavelmente mais nenhuma se juntará a elas, visto que a estadunidense já partiu para a próxima com o lançamento de “Used To Be Young”.

O título do projeto, que em português significa “férias de verão sem fim”, tornou-se piada com os fãs, que afirmaram que Miley estava levando o título a sério, uma vez que, após a estreia do disco, sumiu.

Nem é necessário dizer que ela não fez qualquer apresentação ao vivo, certo? Algo impensável em 2013, quando atingiu seu auge com o divisor de águas, “Bangerz”.

Se “Flowers” foi subaproveitada, não podemos dizer o mesmo de “We Can’t Stop” ou de “Wrecking Ball”. Os maiores sucessos daquela era foram apresentados exaustivamente pela artista.

Ela cantou as músicas nos principais programas da TV americanos, como “Late Night with Jimmy Fallon”, “The Ellen DeGeneres Show” e no “Good Morning America”. Além disso, cantou em canais da Alemanha, França, Austrália e Reino Unido.

Não é à toa que o álbum recebeu certificado de platina em diversos países, incluindo o Brasil, e ficou no primeiro lugar dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

O abandono que “Endless Summer Vacation” recebeu não é comum para a ex-intérprete de Hannah Monatana, que mesmo em seus piores desempenhos, como ocorreu com “Younger Now”, continuava lutando pelo sucesso de suas canções.

Apesar do fracasso, “Younger Now” foi apresentada em vários momentos.

POR QUE ISSO ESTÁ ACONTECENDO?

Foram citados apenas três exemplos, mas a verdade é que esse fenômeno está se tornando cada vez mais comum. A explicação pode surgir quando analisamos alguns fatores.

Primeiramente, ao se consolidarem, os artistas possuem uma necessidade menor de esforço para explodirem nas paradas, já que conquistam uma base sólida de fãs. Sem contar que os compromissos aumentam; hoje em dia todos querem fazer mil coisas, como atuar, dirigir e escrever livros, e o tempo fica escasso.

Claro, essas coisas não são novidade, então não é isso.

Conforme mencionado no início deste texto, a indústria da música está em transformação. Beyoncé, Miley e Taylor emergiram antes da era dos streamings, quando álbuns e até mesmo singles físicos eram o padrão.

Taylor Swift costumava ir pessoalmente comprar seus próprios álbuns.

Por que um cantor se daria ao trabalho de viajar até o outro lado do mundo para divulgar um novo lançamento, quando pode apenas investir em uma playlist grande no Spotify?

Para que passar horas ensaiando uma performance quando um viral no TikTok acaba tendo mais impacto? Lançar dezenas de remixes para impulsionar as vendas também é um caminho mais simples.

Premiações como o VMA, AMA ou Grammy ainda têm muita relevância, porém a audiência continua caindo ano após ano. Não é surpreendente que a cada ano que passa, menos conhecidos são os que se apresentam lá.

“Anti-Hero”, “Break My Soul” e “Flowers” foram todos número #1 na Hot 100 americana, apesar de não possuírem uma apresentação na TV. Fica muito claro quando pensamos nisso.

Os artistas, além disso tudo, são seres humanos. Nós, como fãs, acabamos esquecendo desse fato, às vezes, e exigindo demais, pois queremos novidades e números.

E, mesmo quando recebemos, as reclamações persistem. Dua Lipa é criticada constantemente pelo fogo nos olhos que demonstra ter para divulgar seus singles, chegando a ser chamada de “desesperada”.

Então, segundo a internet, existem duas opções: ou você não quer trabalhar, ou você está desesperado por sucesso.

Precisamos compreender que estamos vivendo uma nova fase na indústria musical, independentemente de gostarmos ou não.

Lucas Martins

Nascido em 2002 na cidade do Rio de Janeiro, cresci com paixão pela literatura e pela música. Sou Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Unicarioca e futuro pedagogo pela UERJ. No meu tempo livre, gosto de assistir a filmes e acompanhar cada passo dado por Taylor Swift.

2 thoughts on “Os artistas não divulgam mais suas músicas? Por quê?

  1. acho que pra esses artistas com mais tempo de carreira perde a graça, fica cansativo (além dos fatores mencionados no texto, claro). é uma pena, porque parte da magia de acompanhar uma era vem dessa divulgação com performances, entrevistas, etc. me pergunto se isso não prejudica o vínculo entre fã e ídolo… enfim, gostei da matéria, parabéns!!

    1. Acredito que quando o cantor se coloca num lugar de intocável, realmente pode afetar na relação com os fãs. Muito obrigado pelo comentário!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.