O uso de sample: homenagem ou falta de criatividade?
Antes mesmo do lançamento, o novo single de Ava Max e Kygo, “Whatever, Whatever”, já estava sendo alvo de críticas nas redes sociais. O motivo é que a música utiliza um sample de um clássico da década retrasada da colombiana Shakira. Os internautas apontaram que a cantora está sempre utilizando a base de outras canções famosas e que isso indicaria uma falta de originalidade por parte dela.
Sample, para quem não sabe, significa “amostra”. Na música, o termo é utilizado quando um artista pega um trecho da melodia de um trabalho já existente para a criação de uma nova obra. Um exemplo disso é “Girl From Rio”, de Anitta, que dá uma roupagem nova para “Garota de Ipanema”.
O uso de sample é comum na indústria e não configura plágio, uma vez que quem utiliza precisa pagar os direitos e creditar os autores da música original. No entanto, enquanto alguns são aclamados pelo uso desse artifício, outros recebem fortes ataques.
MULTIFACETADOS… SERÁ?
Quando um perfil internacional publicou uma lista com as artistas femininas que mais samplearam, o resultado surpreendeu. No pódio, apareciam Nicki Minaj (239), Beyoncé (181), Madonna (164) e, apesar de não apresentar fontes, a postagem gerou uma grande discussão.
Alguns grupos de fãs começaram a ridicularizar as cantoras que estavam presentes com números elevados. Por isso, outros internautas apareceram para defendê-las e também apontar um triunfo em utilizar de sample na criação de uma música.
Apesar de receber milhares de curtidas, nem todos que viram este comentário acima com bons olhos. Diversas contas rebatarem rindo e dizendo coisas como “sério que estão se gabando de usar sample?”.
CASOS E CASOS
Em minha opinião, não há problema em utilizar deste recurso. Pelo contrário, há várias músicas incríveis que se aproveitam de outras e demonstram como a arte está sempre se transformando e sujeita a adaptações. Tudo o que importa, porém, é a forma que ocorre e a motivação.
Na carreira da Ava Max, por exemplo, existe toda essa resistência do público justamente porque ela exagera. A maioria de seus sucessos são reinvenções de outras faixas, como “Kings & Queens”, My Head & My Heart”, “Million Dollar Baby”, entre outras.
Ao sempre referenciar quem veio antes, como poderemos ver uma identidade própria de Ava? Embora consiga números, fica difícil conquistar relevância ou um patamar de compositor respeitado quando tudo o que você produz é requentado.
É diferente, por exemplo, do trabalho que Beyoncé fez com o disco “Renaissance”. O trabalho como liricista da mãe de Blue Ivy foi descredibilizado nesta era pela extensa lista de compositores presentes no projeto, porém isso ocorria justamente por conta dos créditos dos samples.
No álbum, ela representa e resgata elementos do ballroom, da música dance feita por artistas negros e serve como uma homenagem a sua própria cultura. Dessa forma, não soa como algo vazio, mas sim como uma consagração da arte criada por aqueles que pavimentaram o caminho pelo qual hoje ela atravessa.
Por isso, reafirmo aqui que muito dessa análise depende do contexto. Mais cedo no texto, dei como exemplo “Girl From Rio” e “Garota de Ipanema” e usarei a faixa novamente para argumentar neste ponto. Anitta não costuma usar sample, mas foi certeira ao escolher esse em 2021. Em sua versão mostra que é uma garota do Rio de Janeiro, não romantizada e da área nobre, mas sim da verdadeira realidade da cidade, que é linda mesmo com seus defeitos.
Agora, qual seria o impacto ou a lógica da letra de Tom Jobim para uma artista como Ava Max ou Bebe Rehxa?
BEM FEITO, MAL FEITO
Você provavelmente já escutou um cover e pensou “nossa, matou a música”. Bom, com o sample ocorreu a mesma coisa. Acredito que um belo fenômeno dessa situação é a faixa de abertura de “Pink Friday 2”, de Nicki Minaj.
Não me entendam mal, ela é uma excelente rapper, mas ninguém consegue acertar toda vez. Se no primeiro single, “Super Freaky Girl”, ela mostrou um excelente uso do ritmo de “Super Freaky” de Rick James, em “Are You Gone Already” foi o contrário.
A canção que abre o último álbum de Nicki utiliza sample de “when the party is over”, de Billie Eilish, porém de uma maneira que considero bem preguiçosa. A música começa com um trecho da música jovem cantora em uma versão mais acelerada, seguida por versos da estrela de hip-hop, e volta novamente ao se aproximar do refrão.
Logo, o álbum se inicia com um grande sucesso… de outra pessoa. Faz sentido? Os próprios fãs pareceram não gostar, principalmente porque a dona de “Anaconda” deu a entender que se tratava de uma parceria das duas.
Selecionei todos estes pontos na tentativa de responder a pergunta do título, porém, no final do dia, cada pessoa terá a sua própria opinião sobre o assunto. Sendo assim, quero saber o que você pensa do uso de samples e os casos citados neste artigo. Deixe seu comentário!