Taylor Swift e o tal do “privilégio branco”
Na 66ª cerimônia do Grammy Awards, Taylor Swift fez história ao tornar-se o primeiro ato a conquistar quatro vezes a categoria “Álbum do Ano”, a principal da noite. Anteriormente, já havia vencido em 2010, com o “Fearless”; em 2015, com o “1989”; e mais recentemente, em 2021, com o “Folklore”. No entanto, a conquista gerou polêmica.
Em seus 34 anos de vida, a cantora sozinha ganhou mais vezes o “AOTY” do que todas as mulheres negras somadas. Esse fato estimulou a internet a debater sobre o “privilégio branco”, com muitos alegando que Taylor ganha esses prêmios apenas por causa da cor de sua pele.
O racismo existe, não só no Grammy, mas em toda premiação, principalmente quando analisamos certos absurdos que ocorreram durante as últimas edições. Todavia, ao direcionar o ódio para a pessoa que vence, ao invés de criticar a instituição, ignoramos o real problema, e tudo acaba virando um grande circo para o ódio.
AS INJUSTIÇAS
Kendrick Lamar, Jay-Z, Beyoncé e Prince compõem a longa lista de artistas negros que não foram recompensados com a principal honra do evento. Existem casos que evidenciam o preconceito dos votantes, como “Lemonade” perdendo para o “25”, ou mesmo o “After Hours”, do The Weeknd, sendo completamente ignorado.
Beyoncé, por exemplo, é a maior vencedora de todos os tempos do Grammy. Porém, apenas um dos seus 32 troféus é de uma categoria principal. A impressão que fica é que eles se recusam a dar o maior dos momentos para ela, mas estão tranquilos em dar “prêmios de consolação”. Ela já levou subcategorias de pop, R&B, música urbana e de música eletrônica/dance.
Taylor Swift, por outro lado, parece estar no espectro oposto. Quatro de suas quatorze estatuetas são de “Álbum do Ano”; o “Folklore” não ganhou nada além disso, e o “Midnights” só recebeu mais um.
A QUERIDINHA… SERÁ?
Um dos comentários que os críticos mais gostam de fazer sobre a Taylor é dizer que ela é a queridinha do Grammy, mas será que é mesmo assim?
Bom, das 32 nomeações da estrela, ela obteve 14 êxitos. Dessa maneira, fizemos um comparativo com outros artistas para verificarmos a porcentagem de vitórias de cada um. Para sermos justos, analisamos apenas pessoas brancas.
A dona de “Anti-Hero” mais perde do que qualquer outra coisa, porém, mesmo assim ela é praticamente a única que é chamada de “favorecida” pelos haters. É completamente compreensível se frustrar com a parcialidade da premiação e com a derrota de quem levava a sua torcida, mas não é justo atacar alguém que não fez nenhuma das decisões.
O pior é quando pessoas brancas, fãs de cantores brancos, começam a utilizar da pauta racial para movimentar brigas em redes sociais. Dessa forma, a pessoa finge que se importa com uma causa importante apenas para sentir-se “legitimado” a xingar algum famoso. Além de extremamente babaca, ainda atrapalha todo um movimento.
Não faz sentido reclamar de privilégio branco quando a Taylor ganha, se você torce para a Ariana Grande em todas as categorias. Alias, isso é outro ponto relevante: por que outros artistas caucasianos não têm as mesmas conquistas que Swift? Uma vez que todos eles dispõem dos mesmos privilégios.
Katy Perry, Lana Del Rey e Avril Lavigne nunca ganharam um Grammy. Todas elas também são mulheres brancas padrões com múltiplas indicações. O que diferencia elas da atual namorada de Travis Kelce? Por qual razão outras pessoas com o mesmo tom de pele e oportunidades não conseguem vender tanto, lotar tantos shows ou serem tão aplaudidos pelos especialistas?
OS ÁLBUNS DO ANO
É impossível agradar a todos. Logo, não importa quem seja o vitorioso, haverá reclamações. Todas as quatro vitórias da loira foram questionadas, mas todos os discos também foram extremamente aclamados na época e venderam como água.
Nenhum dos álbuns vencedores, inclusive, se parece com o outro. Na realidade, dois deles são pop, um é country e o outro é folk. Ela se reinventou mais vezes em poucos anos do que a maioria dos musicistas fazem durante toda a sua carreira.
Taylor Swift possui sim privilégio branco. Afinal de contas, ela é uma mulher branca bem sucedida em uma sociedade racista. No entanto, utilizar isso para desmerecer suas conquistas não faz sentido e está na hora de quem não gosta dela aceitar que estamos presentes de uma das maiores artistas da geração.
O Grammy é um medidor de qualidade e de popularidade, mas vencê-lo ou perdê-lo não definirá a trajetória ou o mérito de ninguém. Para mim, todo músico que consegue tocar o coração de seus ouvintes já é um campeão.