KESHA: A ascensão, a queda e o possível retorno
O ano de 2009 foi um marco significativo para a música pop, trazendo à tona muitos clássicos modernos. Hits como “Bad Romance” de Lady Gaga e “Party in the U.S.A.” de Miley Cyrus são lembrados até hoje como ápices do gênero. No entanto, ao mencionar as cantoras que definiram o final da década de 2000 e o início da década de 2010, muitas vezes esquecemos um nome importante: Kesha.
“Right Round” do rapper Flo Rida foi o primeiro vislumbre que tivemos da voz da americana. Na época, apesar de cantar o refrão, Kesha não foi creditada na música. Posteriormente, isso foi corrigido e a artista até foi convidada para estrelar o clipe, mas recusou, afirmando que queria fazer seu próprio caminho na indústria. A faixa foi número um em países como Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e Canadá.
A vontade de se provar sozinha foi atingida rapidamente, pois “TiK ToK” surgiu no final daquele mesmo ano, tornando-se um sucesso sem precedentes. O eletropop e a estética de garota extravagante que só quer saber de curtição conquistaram o público e renderam nove semanas no topo da Hot 100, a principal parada estadunidense, e mais de 8 milhões de cópias vendidas nos EUA.
Seu jeito descontraído e “louco”, todavia, não era muito diferente do que faziam as outras divas pop; pelo contrário, era a tendência do mercado na época. Então, será que Kesha conseguiria se destacar e não se perder no meio de tantos outros talentos?
Apesar de duras críticas da mídia pelo seu jeito e suas letras, por um tempo a californiana realmente esteve no topo do mundo. Sua primeira era trouxe êxitos como “Your Love Is My Drug”, “Blah, Blah, Blah”, “We R Who We R” e “Blow”, todos figuraram no top 10 em seu país de origem. Até canções que não foram trabalhadas como “Backstabber” fizeram barulho.
A QUEDA E AS INJUSTIÇAS
Foi em seu segundo álbum, “Warrior”, que as coisas começaram a desandar. O single carro-chefe, “Die Young”, chegou a fazer sucesso, mas não alcançou o primeiro lugar devido a um boicote das rádios. O título, que em português significa “Morrer Jovem”, gerou um gosto amargo no público americano, que lidava com um massacre em uma escola onde 20 crianças perderam a vida.
“Oh, que pena que você trouxe alguém com você / Então, enquanto você estiver em meus braços / Vamos aproveitar a noite ao máximo / Como se fossemos morrer jovens / Nós vamos morrer jovens / Nós vamos morrer jovens”
Trecho traduzido de “Die Young”.
Não houve outro destaque no disco, já que tanto “C’Mon” quanto “Crazy Kids” deixaram a desejar nos charts. O único ponto alto nessa época veio dois anos depois, com a parceria “Timber” ao lado de Pitbull.
Agora, para entendermos a situação que mudou a carreira de Kesha de vez, precisamos entrar em um assunto delicado. Durante o início de sua carreira, a cantora assinou com a gravadora de Dr. Luke, que também foi o produtor de suas músicas. Ele é responsável por obras como “California Gurls” e “Wrecking Ball”.
Em outubro de 2014, ela processou o homem, acusando-o de abuso sexual, físico, emocional e verbal ao longo de quase uma década. Ela alegou que ele a drogou e a estuprou em duas ocasiões. A artista também relatou que ele controlava fortemente sua vida profissional e pessoal, o que resultou nela sofrendo um distúrbio alimentar.
Para que fique claro, sabemos que, quando uma mulher faz uma acusação dessas, por si só já é uma situação complexa. Há desconfiança, julgamento e humilhações. No caso de Kesha, ela estava buscando justiça contra um dos maiores nomes da indústria fonográfica, que possuía não só muita influência, mas também o controle de sua carreira.
Em 2016, por exemplo, ele tentou barrar uma apresentação dela no Billboard Music Awards, porém voltou atrás após pressão popular. A performer tentou uma liminar na justiça para mudar de gravadora, mas seu pedido foi negado. Ela chegou a ficar quatro anos sem colocar nenhuma música própria no mercado.
COMO UMA FÊNIX
O hiato de Kesha chegou ao fim em 2017 com a balada poderosa “Praying”, que demonstrava sua resiliência e também a esperança de que aqueles que lhe causaram mal encontrassem paz e mudassem suas atitudes. Foi um retorno triunfante, provavelmente sua canção de maior qualidade lírica até aquele momento, que lhe rendeu sua primeira indicação ao Grammy.
“Eu estou orgulhosa com quem eu sou / Sem mais monstros, posso respirar novamente / E você disse que eu estava acabada / Bem, você estava errado e agora o melhor ainda está por vir“
Trecho de “Praying” traduzido.
Na parada americana, a canção chegou à vigésima segunda colocação, conseguindo certificado de platina pelas 2 milhões de cópias vendidas no país. Infelizmente, embora não estivesse envolvido no processo de criação do single, Dr. Luke recebeu parte dos lucros desse projeto.
O álbum “Rainbow” chegou ao primeiro lugar em sua estreia e, apesar de não ter rendido outros sucessos, foi aclamado pela crítica e também indicado ao Grammy como “Melhor Álbum Pop”.
Os últimos anos, entretanto, foram difíceis para a estrela. Seu quarto álbum de estúdio debutou apenas na sétima posição, e o seguinte não alcançou nem o top 150. Não era somente uma questão de perda de interesse do público, mas também de falta de investimento e os boicotes sofridos.
Enquanto isso, Dr. Luke continuou poderoso, trabalhando com artistas como Kim Petras e Doja Cat. Seu último lançamento foi a faixa de empoderamento feminino “Woman’s World” de Katy Perry. Sim, também percebemos a ironia.
Porém, mais uma vez, Kesha está ressurgindo como uma fênix. Ela entrou em um acordo judicial com o produtor e agora trabalha como artista independente, com sua primeira música de trabalho sendo “JOYRIDE”. No seu lançamento, a faixa fez pouco mais de 430 mil plays, um número pequeno, mas significativo para alguém sem gravadora e investimento. Aos poucos, o número foi crescendo e, no fim da primeira semana, o single recebeu quase um milhão de reproduções, já sendo seu melhor desempenho desde 2017.
Concluindo, Kesha é uma artista com quem acredito que nós, como ouvintes, falhamos. Ela lançou algumas das melhores músicas para dançarmos em seus dois primeiros álbuns. Depois, nos fez chorar e nos emocionou com seus vocais, tudo isso enquanto enfrentava batalhas internas e externas que não desejaríamos aos nossos piores inimigos. Portanto, é justo que ela ainda precise lutar tanto para ser valorizada?
Só o tempo dirá se “JOYRIDE” e essa nova fase de sua trajetória irão vingar, mas eu estarei na torcida. E vocês? Deixem nos comentários qual é a sua música favorita dessa diva!
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