“Gostava Mais dos Pais”: Bruno Mazzeo e Lucio Mauro Filho brincam de fazer humor

“Gostava Mais dos Pais”: Bruno Mazzeo e Lucio Mauro Filho brincam de fazer humor

Após o sucesso em São Paulo e Fortaleza, Bruno Mazzeo e Lucio Mauro Filho brilham no Rio de Janeiro com a comédia “Gostava Mais dos Pais”. A peça estendeu a temporada na cidade maravilhosa e está dando o que falar. Em uma viagem a trabalho ao Ceará, tive a oportunidade de assistir ao espetáculo, então gostaria de deixar aqui meus dois centavos de contribuição sobre o que achei.

A peça retrata os amigos de uma vida toda, trazendo com muito humor as dificuldades de entender os seus lugares no mundo contemporâneo. Ao mesmo tempo que lidam com o peso de serem filhos de dois ícones do riso: Chico Anysio e Lúcio Mauro.

Os atores interpretam cerca de dez personagens e várias versões de si mesmos numa série de esquetes atreladas as suas histórias de vida. No entanto, o que no release do espetáculo chamam de “barreiras impostas ao humor” pode ter uma definição diferente para quem está na plateia.

É SÓ UMA PIADA?

Bruno e Lucio Mauro Filho contracenam de pé. (foto: Jonatas Marques)

Durante as esquetes, cada um interpreta um personagem enquanto o outro interpreta a si mesmo em algum momento “cotidiano”. Em uma dessas cenas, Bruno interpreta um garçom de um restaurante que por diversas vezes problematiza tudo que Lucinho diz. Essa problematização vai do início ao fim do atendimento, fazendo com que Lucio fique desconfortável e com medo de falar qualquer coisa. Representando assim um certo anseio de ser cancelado, como vemos nos dias atuais na internet.

O que eu não esperava, era ver ao final da cena, Silvero Pereira, uma figura importantíssima da cultura brasileira, retirar-se do teatro. O motivo? A forma que a esquete terminou. Entre a discussão sobre o que podia ou não falar na era atual, Lucio se estressa por não conseguir fazer seu pedido, e acaba solicitando apenas um copo d’água. No entanto, é repreendido pelo garçom, que diz “não é água, é águe”.

Não posso afirmar que a piada associando a forma correta de dizer “água” com o debate da linguagem neutra foi o motivo do ator ter se retirado do teatro, mas é bem provável. Ainda que Silvero seja um dos grandes nomes que tem defendido os direitos de pessoas LGBTQIA+, e que ele tenha se sentido ofendido, era de se esperar que ele compreendesse que uma piada abre alas para debates importantes na sociedade.

A COMÉDIA FAZ PENSAR

Em meio às risadas da plateia nesta cena, ainda que eu não tenho achado engraçado, acredito que a comédia tem o poder de fazer as pessoas pensarem. A arte de fazer rir é permeada por questionamentos que quase vem sempre destacada por um exagero. Quando nos identificamos com isso acabamos por pensar “e não é que isso é verdade mesmo” e daí partimos para analisar o que pensamos sobre aquilo que foi dito.

A piada sobre a linguagem neutra, para mim, foi uma forma dos humoristas tecerem uma crítica não apenas à cultura do cancelamento, mas também que o mundo está mudando e precisamos sim nos moldar ao que vem acontecendo, nos atualizar, repensar se determinadas comentários ou piadas podem ou não serem feitas. Contudo, a comédia, ainda que faça rir, é capaz de deixar uma pulga atrás da orelha de cada um na plateia. O riso tem o poder de aliviar os piores momentos, até mesmo o da morte. E se conseguirmos parar de nos angustiar com isso, o que é uma piada sobre a forma de dizer uma palavra, não é mesmo? Espero de verdade que os meninos pensem o mesmo.

UMA HOMENAGEM MARCANTE

Bruno e Lucio Mauro Filho Sentados em cadeiras no palco. (foto: Jonatas Marques)

Apesar da forma que os tópicos são abordados, as risadas são garantidas pela cumplicidade dos atores no palco. Bruno e Lucinho brincam de atuar neste espetáculo e enquanto o público se diverte, eles vão levando a todos para um final emocionante.

De cara limpa na maior parte do tempo, contracenando com apoio apenas duas cadeiras, alguns vídeos no telão, e um violão, os dois lançam questionamentos que vemos a todo momento de sua vida cotidiana para a plateia. Em um mundo globalizado como o de hoje, somos marcados pela forma como as pessoas nos veem e o quão conectados estamos a todo momento.

O peso de serem filhos dos ícones da comédia brasileira é o fio que liga o espetáculo, e como o próprio nome diz “Gostava Mais dos Pais” é uma referência às pessoas que dizem essa frase a todo momento para os dois.

QUESTIONAMENTOS INTERNOS

Bruno Mazzeo atuou nas séries Cilada (2005-2009), Muita Calma Nessa Hora (2010), Cilada.com (2011). Novelas como Beleza Pura (2008), Cheias de Charme (2012). Filmes como E aí, comeu?, Vai Que Dá Certo (2013) e muitos outros. Já Lucio Mauro Filho será para sempre o nosso Tuquinho de A Grande Família (2001 – 2014). Séries como Sexo Frágil (2003- 2004), Chapa Quente (2015 – 2016), Malhação (2017 – 2018), entre outros. Os dois também atuaram juntos em diversos filmes, nos icônicos comerciais da Pepsi Twist, dando vida aos “Limões Falantes”, e na nova versão da Escolinha do Professor Raimundo (2015 – 2020).

Em “Gostava Mais dos Pais”, no entanto, eles fazem uma releitura de suas biografias. Como se manter relevante na era da internet? Como não ser engolido pela tentação de gravar uma dancinha no TikTok? E mais, como serem reconhecidos por seus trabalhos de altíssima qualidade em meio à tantas comparações feitas entre eles e seus pais?

A resposta não fica muito clara, mas é nítida a forma que os dois destacam a melhor forma de levar a vida. Tentando ser o melhor que podem e com uma pitada extra de gratidão. De um jeito simples o texto esclarece que não há problema algum das pessoas serem mais fãs dos pais deles do que deles. “Nós temos que nos reinventar” é uma frase que Lucinho diz, enquanto Bruno repete “mas não assim”.

Ao final da peça, somos surpreendidos por uma linda homenagem aos seus pais, assim destacam não apenas o orgulho de serem filhos de quem são, como também o fato de quererem deixar marcado para sempre a memória deles. Foi a forma que os dois encontraram de abordar seus talentos enquanto recordam os pequenos momentos que tiveram com seus pais, isso fez tudo valer a pena, mesmo com as inúmeras comparações.

De uma forma intimista, em “Gostava Mais dos Pais”, a dupla prepara também uma homenagem final que vai no fundo da alma de quem tem apreço pela arte, cultura e principalmente pela comédia. Portanto, se forem assistir, levem um lencinho para enxugar as lágrimas. Ah e por eu não ter conhecido Chico Anysio e Lucio Mauro, eu acho que gosto mais dos filhos mesmo.

SERVIÇO:

Onde?: Teatro Casa Grande.
Quando: Temporada prorrogada até 11 de Agosto.
Dias e Horários: Sexta e Sábado às 20h e Domingo às 18h.
Ingressos em: Eventim

Wesley Souza

Carioca, nascido em 1997, escritor, graduado em Publicidade e Propaganda pela UniCarioca (2022); Mestrando em Comunicação pelo PPGCOM/UFF e autor do livro "Marcado Para Zautar". Apaixonado pela literatura, sempre gostei de escrever e expor minhas opiniões.

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