“Saideira”: o filme desce como uma boa cachaça?

Ainda há muita luta pela frente, mas aqueles que lutam pela arte brasileira já perceberam a melhora na recepção do público ao cinema nacional. O primeiro trimestre de 2024, por exemplo, sozinho, levou mais pessoas ás salas de cinema para ver conteúdo nosso do que o último ano inteiro. Claro que isso se dá graças ao sucesso de longas como “Nosso Lar 2: Os Mensageiros” e “Os Farofeiros 2”, mas os dados não deixam de ser empolgantes.

A dupla Pedro Arantes e Julio Taubkin, que já trabalhou junta no thriller “Dente por Dente”, vem com uma nova aposta. “Saideira” chega dia 8 de agosto nos cinemas, o Blog Amargurado foi convidado para conferir o filme e nossa opinião você verá agora.

Quando o avô de Penélope (Luciana Paes) e Joana (Thati Lopes) morre, a mais velha volta a cidade do interior em que cresceu e reencontra a irmã após longos anos afastadas. Penélope, que é cachacista, está em busca de uma precisa e rara cachaça que era do homem, a tal da “Saideira”. As duas recebem a bebida de heranças, mas são surpreendidas ao perceber que precisão entrar em uma caça ao tesouro para achá-la.

Bom, os primeiros vinte minutos de filme foram um tanto desanimadores. Havia um aspecto de drama misturado com uma comédia fraca que não estava engatando, como se tudo estivesse um pouco fora do lugar e de tom. No entanto, felizmente isso foi resolvido logo e a história encontrou seu rumo.

O tom de mistério e aquele sensação de aventura, com direito a roadtrip, levantou os ânimos. As piadas, por sua vez, começaram a arrancar risadas. Uma cena em específico me fez dar uma gargalhada.

Desce mais uma, garçom!

Luciana Paes e Thati Lopes são excelentes atrizes e isso é indiscutível, mas devo admitir que a Thati rouba um pouco a cena. Apesar de sua personagem ser irritante em alguns momentos, a intérprete conseguiu conciliar a comédia com bons momentos com maior carga emocional.

Além do luto, a produção tem como um de seus principais temas a fraternidade. Penélope e Joana estão longe de ter uma ligação perfeita; pelo contrário, há muita mágoa e rancor armazenado. Todavia, é perceptível que elas se amam e fariam qualquer coisa uma pela outra. É um relacionamento conturbado comum, que vemos em centenas de famílias, e será fácil que muitos se identifiquem ao assistir.

É por conta dessa dinâmica entre as duas que outros nomes de peso do elenco ficam em segundo plano. Estrelas como Suely Franco e Teca Pereira são subutilizadas, apesar do enorme talento que possuem. Tônico Pereira, como Honório, e Rogério Fróes, como Seu Jonas, protagonizam duas cenas curtas, mas muito boas. Também estão presentes no longa Matheus Abreu, Ary França, Jackson Antunes e a cantora indicada ao Grammy Latino, Bruna Viola.

Embora eu tenha elogiado o humor da obra, preciso ressaltar que nem tudo são flores. Determinadas tentativas de ser engraçado faz o roteiro parecer bem bobo, chegando até a fazer piada com peidos. Enquanto refletia sobre essas partes do filme, percebi que, ainda que não me agradasse, era completamente aceitável.

Os críticos ao cinema brasileiro estão aí aos montes, principalmente quando o assunto são comédias… Só que essas mesmas pessoas aplaudem e acham sensacional quando um besteirol americano, ao exemplo do novo Deadpool, lança esse mesmo tipo de comédia infame. Então, para mim, está tudo certo.

Para finalizar, gostaria de apontar positivamente o trabalho de cinematografia do Gabriel Barrella (Bem-Vinda de Volta), que soube explorar as belezas naturais das locações em que ocorre o enredo, como a cidade de Tiradentes em Minas Gerais. É bom ver algo de verdade em meio a tanta tela verde que a indústria utiliza atualmente.

Ficou com vontade de tomar uma “Saideira”? Deixe nos comentários.

NOTA: 3,5