Olimpíadas 2024: Brasil fica “aquém”, mas demonstra esperança.
Tudo o que é bom dura pouco, e os Jogos Olímpicos de Verão de 2024 chegaram ao fim. O Brasil terminou sua participação na 20ª posição no quadro de medalhas, com um total de 3 ouros, 7 pratas e 10 bronzes. O desempenho é inferior ao conquistado nas Olimpíadas de Tóquio três anos atrás, mas será que o resultado é realmente desanimador?
O número de pódios menor do que na última edição e do que algumas projeções indicavam fez com que muita gente se sentisse desanimada. Hoje gostaria de fazer uma reflexão e também demonstrar a força de nossos atletas que, apesar de muita luta, conseguem dar o máximo para honrar o país.
Todos sabemos que aqui não há um grande investimento no esporte como há na China ou nos Estados Unidos. José Fernando Ferreira, do decatlo, por exemplo, precisou tirar do próprio bolso o dinheiro para comprar uma sapatilha que pudesse utilizar em sua disputa. Existe um descaso, uma falta de valorização em algo que promove a transformação social e gera milhares de empregos.
Há quem não se lembre ou prefira fingir que não lembra que o governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro acabou com o Ministério do Esporte. A pasta voltou em 2023, no início do mandato do atual presidente Lula. Vivemos em uma nação em que, durante grandes campeonatos, se clama por mais recursos para o esporte, mas que reclama assim que o dinheiro público é direcionado a isso.
Lorrane Oliveira, medalhista de bronze por equipes na ginástica artística, ressaltou a importância do Bolsa Atleta em sua vida: “Sem o Bolsa Atleta, a minha carreira seria totalmente diferente. Porque eu comecei do nada. A minha família… Eu vim de uma certa delicadeza de dinheiro e tal. Foi o que me ajudou nessa caminhada, e se eu estou aqui é porque o programa me ajudou, e muito”. Rebeca Andrade, maior medalhista olímpica da história do Brasil, também destacou a importância da iniciativa e como ela contribui para o crescimento do país.
Campeãs como as ginastas atualmente possuem condições favoráveis para o treino, estrelam campanhas publicitárias e são bem remuneradas, mas essa não é a realidade da maioria. Cinco minutos de pesquisa na internet ou simplesmente ouvir as entrevistas dos participantes dos jogos já renderão dezenas de histórias de perrengues que eles enfrentaram para chegar até lá.
E esse é um dos pontos que levanto: chegar às Olimpíadas já é uma vitória.
NOSSOS CAMPEÕES
Pode parecer extremamente clichê, mas a realidade é que estar no maior evento esportivo do mundo já é algo gigantesco. Até porque, para chegar lá, é necessário, em primeiro lugar, conseguir se classificar. A seleção masculina de futebol do Brasil, por exemplo, acabou ficando de fora.
É preciso também ressaltar a relação entre favoritismo e pódio. Na primeira semana dos jogos, principalmente, vemos muitos dos nossos compatriotas serem eliminados em sequência, e a sensação que fica é de que estamos perdendo em tudo. No entanto, a realidade é que esses atletas estão longe de serem os mais fortes daquela modalidade; o não avanço deles já é esperado por quem acompanhou o ciclo olímpico deles.
Obviamente, existem casos tristes, como o da boxeadora Beatriz Ferreira, favorita ao ouro para o Brasil, que estava invicta há anos e acabou perdendo sua semifinal, ficando com a prata. Outro exemplo foi Gabriel Medina, que perdeu a chance de conquistar a primeira posição por conta de uma infeliz falta de ondas em sua bateria no surfe.
É diferente quando temos um atleta como Diogo Soares, da ginástica, terminando em 23º lugar. É evidente que adoraríamos vê-lo ganhar uma medalha, mas ele havia se classificado na décima nona posição. Seria necessário ocorrer uma grande zebra para que ele subisse ao pódio, e seria até injusto cobrar isso do paulista.
O PAÍS DO QUASE
Outra questão que frustrou os brasileiros, além das injustiças da arbitragem, foi a quantidade de ‘quase lá’ que ocorreram. Rebeca Andrade quase pegou mais um pódio na final da trave, Ana Sátila chegou em quarto lugar em uma de suas infinitas provas, e Hugo Calderano quase trouxe uma medalha inédita.
É triste? É, mas isso acontece nas melhores famílias. Infelizmente, isso é normal no esporte; todavia, é necessário olhar para isso com outros olhos. Caio Bonfim, prata na marcha atlética em Paris, quase chegou ao pódio no Rio 2016, ficando de fora por cinco segundos, e olha onde ele chegou agora. Precisamos ver os “Poxa, tão perto!” como “Na próxima, eles serão ainda mais experientes!”.
A primeira Olimpíada que assisti foi justamente a que ocorreu na minha cidade; a anterior aconteceu quando eu tinha apenas 10 anos e era muito novo para me importar e entender. Sei que muitos leitores se encontram na mesma situação, por isso talvez não saibam que o Brasil vem melhorando de forma considerável nos Jogos. Confiram o número de medalhas do nosso país desde o início de sua participação, mais de um século atrás:
Paris foi o segundo melhor desempenho do Brasil em número de medalhas na história, superando o Rio 2016. Sei que existe o argumento de que “não existiam skate e surf nos Jogos na época”, e sim, é verdade, mas não acho que isso deva ser levado tanto em consideração. O programa olímpico muda em todas as edições, adicionando novas modalidades e retirando antigas. Sorte que, para nossa alegria, dois esportes em que o Brasil vai bem foram adicionados recentemente.
O PAÍS DO FUTURO
Para finalizar, quero falar da esperança. Brasileiro é um povo esperançoso, ainda bem, é o que motiva uma população que sofre tanto a se levantar todos os dias em busca de algo melhor. Para animar os ânimos e demonstrar que, apesar das lutas, estamos progredindo cada vez mais, resolvi separar marcas históricas do nosso time em Paris:
- Primeira medalha olímpica na marcha atlética (Caio Bonfim)
- Primeira medalha por equipes na ginástica artística.
- Primeira medalha por equipes no judô.
- Melhor campanha do judô nas olímpiadas.
- Primeira semifinal no tênis de mesa (Hugo Calderano)
- Primeira vitória no badminton feminino (Juliana Viana).
- Primeira participação feminina na ginástica de trampolim (Camilla Gomes)
- Primeiro ouro feminino no vôlei de praia em 28 anos. (Ana Patrícia e Duda)
- Primeira final no futebol feminino em 16 anos.
- Primeira final no lançamento de dardos depois de 92 anos. (Luiz Maurício)
- Primeira atleta paraolímpica brasileira nos jogos olímpicos. (Bruna Alexandre)
- Primeira classificação individual na final da ginástica rítmica. (Bárbara Domingos)
- Primeira disputa por medalhas no wrestiling. (Giullia Penalber)
- Primeira final no salto triplo depois de 16 anos. (Almir dos Santos)
- Primeira final feminina na natação 1.500 metros livres. (Beatriz Dizotti)
- Primeira final feminina em 76 anos na natação 400 metros livres. (Maria Fernanda)
- Primeira final no BMX cross. (Gustavo Oliveira)
- Primeira vez que mulheres conquistam mais medalhas que homens.
E ainda tem mais! A luta para mais investimento e reconhecimento nos esportes continua. Quer apoiar mais o Brasil? As Paraolimpíadas começam no dia 28 e nossos atletas dão show em todas as edições.
Queremos saber de vocês: qual foi a vitória e a derrota mais emocionante dessa edição dos jogos? Comente!
Ótimo texto! A sensação que tenho é que o brasileiro é apaixonado por esporte, e cada edição das olimpíadas vibra mais com as conquistas dos nossos atletas, que são campeões, por fazerem tudo o que fazem, com tão pouco investimento. Espero que até Los Angeles 2028, tenhamos uma mídia que divulgue e abra mais espaço para os esportes, com menos hegemonia do futebol masculino, e consequentemente,atraindo mais investimento e visibilidade pra outras modalidades esportivas ✨🙌🏿✨