Fracasso de Cabocla mostra o futuro incerto das reprises

Fracasso de Cabocla mostra o futuro incerto das reprises

Cabocla registrou um recorde negativo na faixa de novelas especiais da Globo em seu segundo dia de exibição. Com apenas 8,3 pontos em São Paulo, a novela de Benedito Ruy Barbosa superou a marca de queda anterior, provocando questionamentos sobre o futuro das reprises e os erros cometidos pela emissora ao resgatar tramas sensíveis aos tempos atuais.

O SUCESSO DA PRIMEIRA VERSÃO

A primeira versão de Cabocla, exibida em 1979, foi um marco na dramaturgia brasileira. A novela, protagonizada por Gloria Pires e Fábio Jr., conquistou o público com sua história de amor entre a cabocla Zuca e o jovem Luiz Jerônimo, além de retratar a rivalidade política do interior. O enredo simples, mas envolvente, somado à ambientação rural e à construção dos personagens, fez da trama um clássico. A novela alcançou alta audiência e gerou boas críticas.

O REMAKE DE 2004: UM SUCESSO CONSOLIDADO.

Em 2004, a Globo apostou no remake de Cabocla com Vanessa Giácomo e Daniel de Oliveira nos papéis principais. A produção também foi um sucesso, alcançando uma média geral de 34,1 pontos, com o último capítulo marcando expressivos 42 pontos. O remake foi exportado para diversos países, consolidando-se como um dos grandes êxitos do horário das 18h, ao lado de Alma Gêmea e Chocolate com Pimenta, já citado seu sucesso aqui no Blog Amargurado.

Vários detalhes ajudaram a construir o sucesso de Cabocla. Tanto na versão original quanto no remake, os protagonistas acabaram se casando na vida real, com Gloria Pires e Fábio Jr. na primeira versão, e Vanessa Giácomo e Daniel de Oliveira no remake. Além disso, o figurino teve um cuidado especial, com envelhecimento químico das roupas para retratar fielmente a época. Essas nuances, junto com a simplicidade rural da trama, foram fundamentais para atrair o público.

O QUE A GLOBO NÃO APRENDEU COM A REPRISE?

Ao trazer Cabocla de volta, a Globo parece ter ignorado o fato de que alguns tópicos abordados na novela são sensíveis para os dias atuais. Por isso, em uma era em que a emissora se posiciona constantemente sobre direitos humanos, questões de gênero e raça, resgatar uma trama que, apesar de nostálgica, não dialoga com essas pautas pode ser visto como uma falta de sensibilidade. A novela, que traz discussões sobre coronelismo e a submissão da mulher, não seria facilmente aceita pelo público atual sem adaptações.

A decisão de reprisar a novela em um momento em que o público está mais exigente em relação às questões sociais mostra que a emissora não soube equilibrar nostalgia e relevância contemporânea. Consequentemente isso fará com que tramas antigas precisem ser revisitadas com um olhar crítico, especialmente quando temas delicados estão em jogo.

POR QUE “CABOCLA” TEVE UMA AUDIÊNCIA PIOR QUE “CHEIAS DE CHARME”?

A queda de audiência em Cabocla pode ser explicada por diversos fatores. O romance entre Zuca e Luiz Jerônimo, com seu cenário interiorano e de época, contrasta fortemente com a trama divertida e extravagante de Cheias de Charme. Por outro lado, enquanto Cheias de Charme explorava o universo pop das Empreguetes, com músicas e uma estética moderna, Cabocla traz uma narrativa mais lenta e distante do cotidiano atual. A diferença de apelo entre as duas tramas é evidente, o que também se refletiu nos números.

Outro ponto que contribuiu para o desempenho negativo de Cabocla é a falta de inovação nas reprises recentes. O público parece cada vez menos interessado em tramas que já foram amplamente exploradas e revisitadas. Assim, a escolha por histórias mais contemporâneas, com temáticas mais próximas do público atual, pode ser a chave para reverter essa tendência.

A ERA DAS REPRISES MORREU?

Diante desses resultados, surge a pergunta: a era das reprises de novelas morreu? O desgaste de títulos já amplamente explorados, como Cabocla, sugere que a Globo precisará repensar suas escolhas. Por isso, apostar em tramas recentes, com temáticas que reflitam a sociedade contemporânea, parece ser o caminho para reconquistar. Quem sabe assim a Globo possa revitalizar o “Vale a Pena Ver de Novo”.

A saturação de títulos clássicos pode ter chegado, e a busca por novos sucessos pode ser um caminho para reverter isso. Sendo assim, adaptações mais cuidadosas de novelas antigas será crucial para o futuro das reprises na televisão brasileira.

João Vitor Trindade

Nascido em 2003 na cidade de São José dos Campos, estudante de jornalismo na Univap. Apaixonado por música, filme, teatro e tudo que envolva cultura, dedica-se também à fotografia. É escoteiro e atua em diversos projetos voluntários, experiências que enriquecem para ele é um dos pontos que o motivam na carreira jornalística.

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