Opinião: A sexualidade de famosos não é da sua conta
Nas últimas décadas a sociedade vem dando grandes passos na aceitação da diversidade, tanto de gênero quanto de sexualidade. No entanto, aparentemente, para alguns ainda é difícil entender que essas são questões delicadas e pessoais.
É triste, mas ainda vivemos em um mundo extremamente preconceituoso. Em 2023, no Brasil, uma pessoa LGBT foi brutalmente assassinada a cada 32 horas em crimes motivados por discriminação. Jovens ainda são espancados e expulsos de casa por serem quem são, e essa luta para existir se estende por toda a vida, inclusive no mercado de trabalho e no sucesso profissional.
Na mídia, não são poucos os casos de famosos que perderam oportunidades e sofreram boicotes por conta de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Christian Chávez, ex-RBD, contou que, na época em que revelou ser gay, ouviu dos diretores da Televisa que sua carreira havia acabado, e os radialistas se recusavam a tocar suas canções porque não apoiavam “música homossexual”.
Se apenas o bom senso não é suficiente, os motivos apresentados deveriam bastar para que as pessoas respeitassem o tempo de cada um e a decisão de declarar ou não em público algo que é privado. Ninguém deveria ter que esconder sua sexualidade; porém, se o indivíduo não está pronto ou não quer se assumir, esse direito deveria ser garantido a ele.
Infelizmente, parece que as pessoas, até mesmo da própria comunidade, não conseguem entender isso. Basta abrir os comentários de um portal na internet ou as páginas de um fórum para perceber.
O cantor Shawn Mendes é um exemplo claro disso. Desde o começo de sua trajetória, foram incontáveis comentários sobre seu jeito e alegações de que ele era gay. Nem mesmo seus relacionamentos com popstars como Camila Cabello e Sabrina Carpenter foram eficazes para afastar os rumores.
O canadense foi sempre muito educado nas vezes em que abordou o assunto no passado, mas era evidente que isso o incomodava. Primeiro, porque já é desconfortável quando você afirma algo sobre sua própria vida e dizem que está mentindo; segundo, porque, em um mundo tão machista, era perceptível em suas letras que essa ideia de ser “homem o suficiente” mexia com ele. É a velha questão da masculinidade frágil, que molda o dia a dia de muitos rapazes.
Ainda é curioso que os mesmos que constantemente levantam essas questões comecem a supor que esses artistas são homofóbicos. Afinal, qual o problema de ser gay ou bi? Contudo, me pergunto se não passa pela cabeça dessas pessoas que, na realidade, o problema é que elas são extremamente inconvenientes.
“Desde que eu era muito jovem existe essa coisa sobre minha sexualidade e as pessoas têm falado disso por tanto tempo. Eu acho meio bobo, porque a sexualidade é uma coisa lindamente complexa e tão difícil de colocar em caixas. Sempre parecia uma invasão de algo muito pessoal para mim, algo que eu estava descobrindo em mim, algo que eu ainda tinha que descobrir e eu ainda tenho que descobrir.
A verdade real sobre minha vida e minha sexualidade é que eu só estou descobrindo como todo mundo. Eu realmente não sei às vezes e em outras vezes eu sei. Parece realmente assustador, porque vivemos em uma sociedade que tem muito a dizer sobre isso e estou tentando ser muito corajoso. Apenas me permitindo ser um humano, sentir coisas.”
Shawn Mendes em declaração recente.
E não pensem, nem por um segundo, que essa falta de empatia se restringe a personalidades internacionais. Aqui em nosso país, temos, por exemplo, o influenciador Juliano Floss, que se encontra na mesma categoria.
Sinto que, às vezes, as pessoas torcem muito para estarem certas, para que essas estrelas virem e digam: “Ok, eu realmente sou LGBT”, e assim elas possam dizer: “Eu sempre soube!”. Mas, e daí? Parabéns, você desconfiava e estava certa. Quer um prêmio? Você não ganha nada por isso.
Em 2022, o astro da série teen “Heartstopper“, Kit Connor, recebeu muitos ataques por supostamente ser um ator hetero interpretando um personagem bissexual. O britânico foi pressionado por semanas nas redes sociais para se assumir, o que acabou fazendo.
“Eu sou bi. Parabéns por forçarem alguém de 18 anos a ‘sair do armário’. Acho que vocês não entenderam a mensagem da série. Tchau.”
Kit Connor via Twitter/X.
É, no mínimo, curioso que até a situação oposta também ocorra. Artistas bissexuais, como Anitta ou Luísa Sonza, têm suas sexualidades constantemente questionadas. Elas não precisam provar nada para ninguém em relação a isso; porém, os críticos agem como se elas devessem comprovar a bissexualidade ao assumirem um relacionamento com alguém do mesmo sexo.
Camila Cabello, Taylor Swift, Harry Styles, Luan Santana, Louis Tomlinson… A lista das celebridades que já passaram por casos semelhantes é muito longa. Enfim, agora queremos saber o que vocês, leitores, pensam disso tudo. Deixem nos comentários!
Disse tudo. (é triste saber que ainda é preciso falar o óbvio)