Em “Shawn”, cantor foge do sucesso e abraça intimismo
Nas redes sociais, os fãs costumam chamar de “deserto” os momentos em que acompanhar algum artista se torna entediante devido à falta de novidades. Essa experiência aconteceu com os admiradores de Shawn Mendes, que, além de estar mais recluso do que nunca, não lançava um disco desde “Wonder“, há quatro anos.
No entanto, na última sexta-feira (15), o canadense nos presenteou com “Shawn“, seu quinto álbum de estúdio e o segundo que leva seu nome. Críticas foram feitas em relação a mais um projeto autointitulado, afinal de contas, se falta criatividade até para dar nome à obra, imagine para o resto.
Quem der play em Shawn provavelmente vai estranhar a drástica mudança sonora na trajetória do cantor. O ouvinte mais casual está acostumado com hits explosivos e radiofônicos, como “There’s Nothing Holdin’ Me Back” ou “If I Can’t Have You”, mas não é isso que encontrará desta vez. O novo lançamento do jovem de 26 anos assume uma postura muito mais introspectiva e folk-rock, que funciona para ele, mas o impede de repetir o desempenho que já teve no passado.
Engana-se quem acredita que Mendes coleciona primeiras posições na Billboard. Na verdade, isso ocorreu apenas uma vez com “Señorita”, seu single de maior sucesso. Todavia, ele sempre manteve uma constância, garantindo um top 10 em todas as suas eras.
O carro-chefe do novo álbum, porém, quebrou essa realidade. “Why Why Why” está longe de ser ruim; pelo contrário, é uma das melhores da tracklist, mas não conquistou o público e amargou um top 90 na principal parada dos Estados Unidos e a 30ª colocação no Canadá.
Shawn estreou com 6,5 milhões de streams em suas primeiras 24 horas. O número é inferior à estreia de Katy Perry com “143“, que já foi considerada desastrosa.
NÃO É O SUFICIENTE?
A abertura do disco é “Who Am I” (Quem Sou Eu?), onde o artista brevemente fala sobre a confusão em sua mente e sobre como é complicado para explicar em voz alta, mas que ele sabe que vai decepcionar aqueles que estão ao seu lado.
“Eu sinto pressão vinda daquele que amo, isso dói. / Mas eu sei que preciso, que preciso me colocar em primeiro lugar / Me perdendo tentando te deixar com orgulho / Desculpe, tenho que, tenho que te decepcionar”
Foi dito que isso foi abordado brevemente, pois a faixa possui apenas 1:40 de duração. O próprio álbum é muito curto, com apenas meia hora, sendo o seu menor até hoje. Particularmente, acho que isso ocorre porque talvez Shawn simplesmente não tenha mais conteúdo.
É perceptível que o cantor compõe suas próprias músicas e que ele tem apreço pela arte que produz, mas é como assistir alguém fazendo muito esforço para ser profundo e, mesmo assim, não alcançar aquilo que tanto almeja. Por exemplo, a própria “Who Am I” demonstra isso: como você inicia um projeto autointitulado com uma canção sobre sua identidade e tudo o que tem a dizer é a repetição de sete linhas afirmando que não sabe quem é atualmente?
Na já mencionada “Why Why Why”, ele canta que sente que não tem mais nada para dizer, o que fica bem claro ao analisar a obra e seu vazio lírico. Então, por que lançá-la? Aqui caímos na repetição das mesmas temáticas que acompanham o astro desde “Illuminate“, sejam seus problemas relacionados à ansiedade ou as intermináveis idas e vindas do seu namoro com Camila Cabello.
É claro que a cubana estaria presente nas letras; ninguém tinha dúvidas disso. A relação da musa com a trajetória musical de Mendes me lembra quando Clarice Falcão cantava: “quem vai comprar esse CD sobre uma pessoa só?” Será que o público já não está farto dessa história? Não é à toa que os dois estão enfrentando problemas em suas carreiras.
Eu poderia fingir que tenho chances / Em outro romance, mas, querida, no fim / Mesmo que eu tentasse, estaria desperdiçando fôlego / Eu estaria fingindo sexo porque você estaria na minha mente
O LADO BOM E O MAU
Por outro lado, não dá para dizer que ele não teve outra inspiração amorosa para o disco.
Em “In Between” ele supostamente fala sobre Sabrina Carpenter, que recentemente lançou várias músicas sobre a história dos dois. Na letra, ele fala sobre os sentimentos que detinha pela loira e a forma casual com que ele tratava a época, sem promessas de alianças ou de um futuro, mas ele gostava dela e, por isso, pergunta repetidamente “não é o suficiente?” Meio evidente que não era…
Já em “Heavy”, ele entrega o melhor momento do álbum. Novamente, não há nada de especial na composição, mas, em um álbum tão melodicamente lento, é o momento de maior impacto, que funcionaria perfeitamente como um single. Destaque positivo também para “The Mountain”, na qual ele aborda os constantes comentários que recebeu sobre seu jeito e sua orientação sexual ao longo da última década.
Você pode dizer que eu gosto de garotas ou de garotos / O que quer que encaixe no seu molde / Você pode dizer que sou um sonhador / Você pode dizer que eu fui longe demais / Mas eu nunca estive melhor / Então diga o que quiser dizer
A faixa, na minha opinião, funcionaria perfeitamente como um encerramento para esse capítulo de sua trajetória. No entanto, ele escolheu finalizar com um cover de “Hallelujah”, de Leonard Cohen.
Em “Shawn”, Shawn reforça sua imagem de “menino bonzinho que comete erros”, mas a impressão que fica é a de alguém que, caso fosse brasileiro, estaria ou no camarote do BBB pedindo desculpas por ser homem, ou já estaria convertido, dando testemunho na Igreja Universal.
Por mais inacreditável que possa parecer após escrever esta matéria, o canadense é um dos meus cantores favoritos e, com certeza, ouvirei o disco novamente várias vezes. É justamente por gostar do trabalho anterior dele que posso atestar a falta de uma evolução e como esta obra é simplesmente desinteressante, como podemos ver pela reação do público.
E vocês, o que acharam do lançamento? Deixe nos comentários!