Juliette: carreira consolidada ou farsa?
O Big Brother Brasil estava fadado ao esquecimento no final da última década. Participar do programa nunca foi um grande prestígio, mas os baixos índices de audiência, em conjunto com polêmicas como a participação de Marcos Harter, expulso por comportamento agressivo com sua companheira, e a vitória de Paula Sperling, acusada de racismo e intolerância religiosa, contribuíram para o declínio do reality.
A reformulação a partir de 2020, com a adição dos camarotes, mudou para sempre a história do BBB. Estrelas como Manu Gavassi e Rafa Kalimann foram muito beneficiadas após integrarem o elenco. No entanto, nenhum nome saiu da casa como uma promessa maior do que Juliette Freire.
Antes da fama, Juliette era apenas mais uma garota lutando para construir seu futuro. Maquiadora e formada em direito, a paraibana nem em seus maiores sonhos poderia imaginar sair do BBB com mais de 20 milhões de seguidores e sendo uma das pessoas mais amadas do Brasil.
A comoção pela participação da sister foi algo inédito, incomparavelmente maior do que a de ex-participantes amados como Diego Alemão ou Gleici Damasceno. Ela havia vindo do nada e saía dominando o país. A pergunta que ficava era: quais seriam seus próximos passos?
“DEUS ME PROTEJA DE MIM E DA MALDADE DE GENTE BOA…”
Antes mesmo de ela deixar a casa mais vigiada do país, já havia planos para a vencedora; restava a ela ouvi-los e assinar o contrato.
Como a voz de Juliette se destacou, mesmo concorrendo com cinco cantores profissionais, não foi uma grande surpresa que os poderosos da indústria fonográfica se interessassem por ela.
Anitta, com sua empresa Rodamoinho, foi uma das principais responsáveis por esse processo. A carioca, junto com sua equipe, deixou o que viria a ser o autointitulado EP “Juliette” pronto, com demos gravadas na própria voz da funkeira. Ela também foi compositora da faixa “Doce”.
Esse fator já demonstra o maior problema dessa trajetória musical: sua carreira começou completamente fabricada, sem um pingo de identidade própria ou de qualquer traço real de personalidade, além de “canções com influências de gêneros nordestinos, afinal, ela é nordestina”. Inclusive, muitas críticas foram feitas alegando que a obra era “estereotipada”.
Obviamente, o projeto chamou muita atenção, mas, ao viralizar, foi pelos motivos errados. A faixa “Diferença Mara” virou motivo de chacota devido à letra.
“Eu sou do Nordeste e ele é do Sul / Prefere rap, eu sou mais Gadú / Ele vem de bicicleta / Eu que nunca fui atleta”
Trecho de “Diferença Mara”.
Posteriormente, ela lançou outros singles e fez parcerias de peso, até mesmo com artistas internacionais, como o hitmaker latino Luis Fonsi, conhecido por “Despacito”.
Todavia, os momentos em que ela furou a bolha e se destacou perante o grande público novamente foram ligados a ocasiões de chacota. Houve o incidente de “Quase Não Namoro”, uma canção que consegue agradar aos ouvidos, em colaboração com Marina Sena, que foi alvo de comparações e até de acusações de plágio, e também “Vem Galopar”, sua aposta para as festividades de São João utilizando um sample de “Pagode Russo” e foi, provavelmente, seu ato profissional que mais gerou risos na internet.
SUCESSO OU FALCATRUA?
Escrever essa matéria por si só já é pedir para ter dor de cabeça. Conhecidos como “cactos”, os fãs de Juliette que continuam a acompanhá-la propagam a mesma intensidade de amor que existia na época do BBB, e uma grande parcela ataca tudo e todos que “ousem” criticar a paraibana.
Atualmente, a musa possui cerca de 700 mil ouvintes mensais no Spotify. Esse número é inferior ao de artistas como Agnes Nunes (1,4 milhões) e Carol Biazin (1,5 milhões) e não reflete os 30 milhões de seguidores de seu Instagram.
Por outro lado, seu fandom alegaria que ela alcança grandes números em seus singles e que alguns de seus trabalhos de maior atenção atingiram altas posições, não apenas no Brasil, mas também internacionalmente. Essa é uma história bem interessante…
“Tengo”, do álbum “Ciclone”, figurou no top 200 de vários países, como Panamá e Paraguai, mas a maior surpresa foi chegar ao top 3 na Letônia. Sem querer desmerecer, mas alguém acredita que o povo dessa nação do leste europeu estava realmente consumindo essa canção? Juliette também conquistou o primeiro lugar em mais de 40 países no iTunes com “Cansar de Dançar”, uma música que, mais de dois anos depois, tem apenas 5 milhões de streams.
Como isso aconteceu? No iTunes, o esquema envolve vaquinhas em que os fãs se unem e arrecadam dinheiro para comprar as faixas em outros territórios. Muitas vezes, essa colaboração ocorre com fã-clubes de outros artistas em uma “troca”, onde eles compram a música de Juliette lá fora, e os brasileiros adquirem a do artista estrangeiro aqui.
No Spotify, o sistema é semelhante, mas há outro fator essencial: as versões.
Na plataforma, cada música pode ser ouvida até 20 vezes por dia por conta para que não seja contabilizada como flood. Dessa forma, um fã poderia ouvir essa quantidade em sua conta para o somatório das paradas. No entanto, as músicas da cantora possuem dezenas de versões diferentes, e cada uma delas é contabilizada no total. Assim, em vez de ouvir 20 vezes, o fã consegue gerar milhares de streams diários.
No final, o resultado é simples: parece que muitas pessoas estão ouvindo, mas não estão. É apenas uma bolha forjando um desempenho inexistente.
E O PRECONCEITO EU SÓ ENGULO COM FARINHA…
Porém, não pensem nem por um segundo que eu desmereço aqui o poder da nordestina. Ela é gigantesca em publicidades, e seu carisma e humildade fazem com que tantas pessoas se importem a ponto de consumirem seus projetos à exaustão.
Muitas dúvidas, entretanto, acabam surgindo: Por que a maior parte dos telespectadores do Big Brother que a idolatravam parece não se importar nem um pouco com sua carreira nos palcos? Será que ela não é tão interessante aos olhos desse público quando não está sendo humilhada por uma rapper ou por um nepobaby? Ela era realmente cativante naquele nível ou o brasileiro apenas gosta de adotar “vítimas”?
Não se esqueça de deixar suas opiniões sobre o texto que leu nos comentários. Torceu por Juliette no BBB? Se sim, acompanha seus lançamentos?