Por que Bad Bunny não emplaca no Brasil?

Por que Bad Bunny não emplaca no Brasil?
Foto: Bad Bunny no AMAs/Amy Sussman

O rapper porto riquenho Bad Bunny, se tornou nos últimos anos um dos maiores astros mundiais. Quando se fala em charts, pode ter certeza que ele estará entre os primeiros nomes. Entretanto, se tem um lugar que o artista não conquistou ainda, é o Brasil.

E o sentimento latino?

De início, soa até meio estranho essa resistência dos brasileiros, visto que Bad Bunny, ou Benito Martinez, é um de nossos “irmãos” que chegaram lá. O cantor foi o primeiro headliner latino do festival estadunidense Coachella, além de conduzir o show inteiro em espanhol e homenagear figuras latinoamericanas.

Bad Bunny em seu show no Coachella
Foto: Bad Bunny no Coachella 2023//Christopher Victorio/Shutterstock

Valorizar as letras em espanhol e as culturas, é uma grande preocupação do artista, que diz ter burlado ‘o mercado gringo’, não fazendo a concessão quase inevitável de cantar em inglês. Mesmo com a barreira linguística, Bad Bunny conquistou um lugar privilegiado no mundo da música, de 2019 para cá ele ganhou três Grammys com os álbuns ‘YHLQMDLG’, ‘El Último Tour Del Mundo’ e ‘Un Verano Sin Ti’ e se tornou o primeiro artista de língua não-inglesa a liderar a parada global no Spotify, feito que repetiu por três anos consecutivos.

Então… Por que o rapper, ainda assim, não tem adesão aqui?

Entender a razão dessas contradições é um tanto quanto complexo, desde atitudes do próprio, podendo se alongar até a fatores históricos na construção e emancipação dos países ao sul da América durante o período pós-colonial.

Em primeiro ponto, o artista nunca se importou tanto com essa “falta de sucesso” no Brasil. Nunca realizou colaborações com artistas brasileiros e até mesmo comentou sobre em entrevista para Billboard: “Não estamos indo bem no Brasil, então deixe-me remixar o artista mais famoso de lá para que meus números subam.’ Isso não me interessa!”.

Além de não ligar muito para nosso país, a barreira linguística pode ser o principal ponto do porquê não caímos nas graças da envolvente “música latina”. O que também explicaria o movimento contrário também não acontecer. A cultura brasileira não é tão querida pelos nossos hermanos e isso vem de um resgate histórico. Desde o período colonial e nos movimentos de independência, nos ausentamos de conflitos que se desenrolam à nossa volta e, das poucas guerras que nos envolvemos, quase todas foram contra nossos vizinhos.

Irmãos que brigam

Esses fatores somados contribuíram para o que vemos hoje: um Brasil mais isolado e sendo um espectador muito desinteressado a esse grande ‘boom’ de Benito. Além disso, temos uma certa exclusão dos ritmos brasileiros ao se falar da “música latina”. O Brasil é um país latino. Isso é um fato incontestável. Não somente isso: o Brasil é o maior país latinoamericano e representa 40% de toda a economia desse bloco geográfico. No entanto, a dita “música latina” se nega a englobar os ritmos tupiniquins, se limitando ao reggaeton à exaustão, e os brasileiros, por sua vez, resistem ao consumo das músicas cantadas em espanhol. 

O Brasil é um país muito particular em termos de música, o que bomba aqui, não necessariamente bomba no resto do mundo e o que bomba no resto do mundo não necessariamente bomba aqui. No caso da música latina, ainda caímos na coisa de ‘não vou ouvir reggaeton porque eu tenho funk, tenho meu próprio trap’. O nosso mercado interno é muito complexo e renderia uma matéria exclusiva para isso, mas resumidamente, podemos falar sobre a força que o agronegócio tem por aqui e alavanca o sertanejo. São uma série de coisas que, entretanto, o Brasil não entra nessa lógica com pop gringo.

É no audiovisual, nas músicas que a gente é massacrado cotidianamente com o inglês, nós estamos acostumados a absorver esse tipo de produção. O que não estamos acostumados a lidar com o espanhol. Assistir filmes, ouvir músicas, ler livros em língua hispânica não é comum para o brasileiro.

Será que algum dia o divo vai ter seu momento de glória no Brasil? Forças aos sete fãs brasileiros do coelhão, que não devem ver seu ídolo aqui muito cedo.

Giovanna de Paula

Nascida em 2003 no interior do Rio de Janeiro, jornalista em formação pela UFRJ e entusiasta da versatilidade e poder da comunicação. Desde cinema e música pop até história e política, amo poder estudar, escrever e comunicar sobre diferentes pontos que fazem o mundo o que ele é, e suas intersecções.

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