Como Astro Bot desbancou Black Myth: Wukong e virou o GOTY mais polêmico em anos

Como Astro Bot desbancou Black Myth: Wukong e virou o GOTY mais polêmico em anos
Astro Bot levou a estatueta da noite, superando o polêmico Black Myth: Wukong

Na noite da última quinta-feira (12), o The Game Awards 2024, maior premiação de games do mundo, entregou sua cobiçada estatueta ao carismático Astro Bot, mascote da PlayStation. O simpático robô, que ganhou um jogo próprio, misturando nostalgia e diversão despretensiosa, desbancou favoritos de peso como Black Myth: Wukong, Metaphor: ReFantazio e a DLC Shadow of the Erdtree de Elden Ring, levando o prêmio de Jogo do Ano. Além disso, também conquistou as categorias de Melhor Direção, Melhor Jogo de Ação/Aventura e Melhor Jogo para Família (mesmo não tendo multiplayer e nem Co-Op).

Apesar disso, a vitória de Astro Bot dividiu opiniões pelas redes sociais, com alguns chamando ele de “Astro Pix”, enquanto comentários mais positivos o chamavam de “Astro Goty”. Colocando a premiação desse ano como uma das mais polêmicas e polarizadas desde 2018, quando God of War venceu sobre Red Dead Redemption 2 na categoria de Melhor do Ano. Mas será que o adorável robô mascote da Playstation realmente mereceu ganhar ?

Confira o trailer de Astro Bot (Reprodução/Youtube/Playstation)

“Astro bot” mereceu ou não vencer

Astro Bot levou o troféu para casa, e o motivo é bem fácil de entender: é um jogo carismático, divertido e simples, que acerta em cheio no que se propõe. Remetendo aos clássicos jogos de plataforma de PS2 e da Nintendo que crescemos jogando, como Crash e Mario. O jogo entrega uma experiência que é praticamente um passeio pela nostalgia do universo PlayStation, que celebra seus 30 anos de história. Recheado de referências ás suas icônicas franquias, como The Last of Us, Crash Bandicoot, Horizon: Zero Dawn e Ratchet & Clank.

Mas, sejamos sinceros, nostalgia e fofura são critérios para vencer? Enquanto Black Myth: Wukong arrancava suspiros com seus momentos épicos e lutas incríveis, e Balatro mostrava que até um jogo de baralho “Souls-Like” pode ser viciante, Astro Bot parecia mais uma vitória segura por falta de ousadia dos jurados, além das controvérsias ao redor de Black Myth: Wukong.

No fim das contas, foi um prêmio muito justo. Astro Bot vai na onda oposta ao mercado, com um game que não tenta ser uma grande produção complexa. Ele resgata a simplicidade da diversão nos videogames com o gostinho da infância, assim como Anton Ego provando sua comida favorita feita por sua mãe em “Ratatouille”.

“Black Myth: Wukong” merece toda a glória ou foi ofuscado por suas polêmicas ?

O maior oponente de Astro Bot na premiação, era Black Myth: Wukong, e para a maioria das pessoas, sua vitória era garantida. Mais uma certeza, é que seu triunfo foi muito prejudicado por todas as polêmicas ao redor do jogo, antes e durante seu lançamento.

O hype em torno de Black Myth: Wukong estava nas alturas, mas a jornada até o seu lançamento foi tudo menos tranquila. O estúdio responsável, Game Science, conseguiu transformar o que deveria ser uma celebração da cultura e mitologia chinesa em um show de horrores corporativo, repleto de polêmicas que desafiam até mesmo os limites da paciência dos gamers mais apaixonados.

Confira o trailer de Black Myth: Wukong (Reprodução/Youtube/Playstation_

Tudo começou com denúncias de sexismo e gordofobia no ambiente de trabalho da empresa, que vieram à tona em postagens nas redes sociais chinesas. Os relatos incluíam cartazes de recrutamento com frases como “gordos devem se f***” e comentários absurdos sobre “diferentes habilidades biológicas” entre homens e mulheres. Um cofundador chegou a zombar de políticas feministas, dizendo que ouvir as mulheres era apenas “uma jogada de marketing para agradar ao Ocidente”. Sim, o estúdio que trouxe um dos jogos mais tecnicamente impressionantes do ano parece estar estacionado moralmente no século passado.

Mas não para por aí. Com o envio das cópias para análise, as controvérsias tomaram outro rumo. A Game Science, junto à co-publicadora Hero Games, distribuiu um guia para os críticos, estipulando que nada relacionado à política, feminismo ou COVID-19 poderia ser mencionados em suas análises. O que foi claramente interpretado como uma tentativa de censura e, claro, virou alvo de revolta imediata nas redes sociais.

Lista de termos e assuntos que não poderiam ser citados para quem fosse fazer a análise do game antecipadamente (Reprodução/X/@MauroNL3)

O jogo da Game Science merecia a vitória no fim ?

Agora, por que Black Myth: Wukong deveria ter vencido, apesar de toda essa polêmica? Bem, vamos ser sensatos: o jogo é um espetáculo técnico e visual. Ele traz uma nova abordagem à mitologia chinesa, com gráficos de tirar o fôlego e um gameplay criativa que inova no gênero de ação e RPG. Além disso, o enorme sucesso no lançamento, com mais de 2 milhões de jogadores simultâneos na Steam, não é um número que se ignora. É difícil não reconhecer a grandiosidade de um projeto que coloca a indústria chinesa de jogos sob os holofotes internacionais.

Ainda assim, a pergunta persiste: é possível separar a obra de seus criadores? Assim como J.K Rowling e H.P Lovecraft ? O deslumbre visual e técnico de Black Myth é suficiente para apagar o rastro de desrespeito e sexismo deixado pela Game Science?

Apesar de sua grandiosidade técnica, Black Myth: Wukong foi ofuscado por suas polêmicas

Black Myth: Wukong acabou saindo de mãos abanando (exceto pela vitória na categoria de Melhor Jogo de Ação), e não foi por falta de mérito. O jogo é uma obra-prima visual que mistura mitologia chinesa e combate visceral, . Porém, nem todo o brilho escondeu as polêmicas envolvendo os desenvolvedores, que pesaram como um fardo na imagem do jogo.

O júri do The Game Awards é formado em sua maioria por jornalistas e grandes portais de notícias, justamente as pessoas que acabaram entrando em conflito com a Game Science. Mostrando que a indústria está de olho nessas questões, e isso, inevitavelmente, colocou um freio na vitória do game. Mesmo assim, se essas polêmicas não tivessem sido consideradas, provavelmente Wukong teria uma chance muito maior de conquistar a estatueta, já que possuía todos os elementos que o GOTY adora.

No final, o The Game Awards 2024 ficará marcado não apenas pela vitória de Astro Bot, mas pela polarização que tomou conta das redes, assim como nas edições de 2016 e 2018. Enquanto alguns celebram a nostalgia e a simplicidade de um mascote carismático, outros lamentam a ausência de um título grandioso como Black Myth: Wukong no topo. A premiação também trouxe à tona discussões importantes, tanto sobre os critérios de avaliação quanto sobre os limites éticos da indústria de games, e o aumento de discussões ideológicas ao redor de jogos e a própria indústria do entretenimento (Mas isso é um assunto para depois!)


E você, consegue separar a obra de seus criadores ou acredita que essas questões éticas e sociais devem pesar nas escolhas de uma premiação como o The Game Awards ? Acha que Astro Bot mereceu vencer? Diga sua opinião nos comentários!

Joshua Diniz

Carioca e Caxiense, nascido em 2003, estudante de Comunicação Social- Jornalismo na UNISUAM. Obcecado por tudo que envolva Cultura Geek, games, super-heróis e universos fantásticos. Fã apaixonado de música Folk e Indie, de The Lumineers a Wallows.

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