O enterro dos Live-Service: como Marvel Rivals escapou do destino trágico de Overwatch 2 e Concord

Desde seu lançamento em dezembro de 2024, Marvel Rivals tem roubado a cena e desafiado a narrativa de que hero shooters e jogos como serviço (os famosos live services) estão mortos. Em uma época saturada por jogos de ambos os gêneros, o título da NetEase chegou com os dois pés na porta, fazendo o básico e alcançando recordes invejáveis. Mas o que explica o sucesso do game? E por que tantos outros, como Overwatch 2 e Concord, tropeçaram tão feio no caminho?
A queda vertiginosa de Overwatch
Se você acompanha o cenário de games, sabe que os hero shooters já foram os queridinhos da indústria. O pai do gênero foi o clássico Team Fortress 2, mas o seu auge começou com Overwatch, em 2016, que, assim como Marvel Rivals, quebrou recordes em seu lançamento, chegando até a levar o “Game Of The Year” daquele ano (considerado um dos mais controversos até hoje).
Mas como tudo que é bom dura pouco, o gênero entrou em declínio após uma enxurrada de lançamentos mal executados e medianos tentando replicar o sucesso da Blizzard. O próprio Overwatch 2 – gratuito desde agosto de 2023 – não conseguiu repetir a mágica do original, com um pico decepcionante de 30 mil jogadores simultâneos na Steam atualmente. Para um título que deveria ser o rei indiscutível do gênero na nossa geração, esse é um resultado quase trágico.
O primeiro jogo era um fenômeno cultural em 2016, mas as novidades que sua sequência prometeu, nunca chegaram. Overwatch 2 é basicamente o primeiro jogo, mas pior. Para piorar, prometeram um modo PvE revolucionário para um game do gênero, e cancelaram depois. A sequência, lançada gratuitamente, não agradou, com um sistema de monetização adaptado para os jogos como serviço atuais, usando o famoso “passe de batalha” e “cosméticos”. Como o primeiro game era pago, Overwatch 2 parecia punir a lealdade dos jogadores que retornaram, ao invés de recompensá-la, frustrando ainda mais quem ainda tinha esperança na Blizzard.

O fracasso de Suicide Squad: Kill The Justice League
Falando em fracassos retumbantes, seria impossível ignorar o fiasco de Suicide Squad: Kill the Justice League e Concord. O jogo chegou com a promessa de ser uma experiência definitiva com os icônicos vilões da DC enfrentando os heróis corrompidos que tanto amamos, mas a realidade foi bem diferente.
O maior problema? O formato simplesmente não era sustentável. Assim como o falecido “Avengers” da Square Enix, Suicide Squad pecou em entender o que os jogadores realmente queriam. Apostando em um modelo de jogo por serviço em um gênero já saturado, o game entregou uma experiência genérica, com missões repetitivas e um sistema de loot tedioso e sem sentido, que parecia mais interessado em prolongar a jogatina sem necessidade, do que em realmente divertir.
O impacto desse fracasso foi devastador para a Rocksteady, desenvolvedora conhecida pela aclamada série Batman: Arkham. Após o lançamento desastroso de Suicide Squad, a Warner Bros Discovery revelou um prejuízo de US$ 200 milhões. Durante uma conferência para investidores, o CEO da Warner, David Zaslav, descreveu o lançamento como “decepcionante”, e a situação só piorou com duas rodadas de demissões no estúdio, afetando toda a equipe que ainda estava envolvida no projeto. Um funcionário chegou a ser demitido enquanto estava em licença-paternidade, mostrando como a empresa estava um caos.
Com uma baixíssima base de jogadores e críticas negativas, a Rocksteady decidiu lançar sua última atualização para o game em janeiro de 2025, afirmando que não desenvolveria mais conteúdo adicional para o jogo, embora os servidores online permaneçam ativos (um benefício que Avengers e Concord não tiveram).

O flop colossal de Concord
Talvez você nem tenha ouvido falar de Concord, já que o falecido game teve uma vida curta de apenas duas semanas. Lançado pela Sony em agosto de 2024, o jogo foi retirado do ar menos de 15 dias após o seu lançamento, devido à recepção negativa dos jogadores, que não aprovaram o jogo desde sua concepção. Sendo a perfeita combinação da saturação: um jogo como serviço e um hero shooter ao mesmo tempo. Tudo que restou do game foi uma “irônica” homenagem póstuma na série antológica “Secret Level”.
Além disso, o desenvolvimento de Concord sofreu com a chamada “positividade tóxica”, onde críticas construtivas foram ignoradas. A Sony já tratava o jogo como um futuro grande sucesso, mas falhou em perceber os problemas óbvios antes do lançamento. O resultado foi um dos maiores fiascos recentes da indústria, culminando no fechamento do estúdio responsável, Firewalk Studios e um prejuízo estimado em quase U$ 400 milhões.
A saturação de jogos Live Service
Enquanto Marvel Rivals e Fortnite dominam o mercado e mostram que os jogadores ainda querem jogos como serviço – desde que sejam bons, a Sony continua fracassando em suas diversas tentativas (apesar do relativo sucesso de Helldivers 2). Nesta sexta-feira (17) a empresa cancelou dois projetos live-service que estavam sendo desenvolvidos por estúdios renomados: a Bend Studio, famosa por Days Gone, e a Bluepoint Games, reconhecida por remakes impecáveis como Demon’s Souls.
Um dos projetos engavetados pela Sony seria ambientado no universo de God of War. Sim, você leu certo. O outro projeto misterioso da Bend Studio, que também já estava envolto em rumores há anos, prometia ser um jogo AAA ambicioso, o que basicamente poderia significar “um fracasso em potencial do tamanho de Concord”.
Esse é apenas o capítulo mais recente no desastre dos jogos como serviço da Sony, que inclui o cancelamento de um projeto online de The Last of Us: Factions e outro de Homem-Aranha, intítulado “The Great Web”. A PlayStation parecia determinada a abraçar o modelo de live-service com 12 jogos planejados até 2025. Agora, com a nova administração e o fim precoce de tantos títulos, é seguro dizer que alguém, finalmente, apertou o botão de pausa nessa avalanche de ideias ruins.

O que Marvel Rivals acertou que os outros erraram
Agora, entra Marvel Rivals em cena, como quem não quer nada, e rapidamente atropela todos os seus concorrentes. Em menos de um mês, atingiu a marca de 20 milhões de jogadores globais, sendo o hero shooter mais bem-sucedido desde o auge de Overwatch. O resultado atual é que, enquanto Marvel Rivals alcança picos de 644 mil jogadores simultâneos na Steam, Overwatch 2, que recentemente estreou sua 14° temporada, luta para juntar 30 mil e manter-se relevante.
Thaddeus Sasser, diretor de Marvel Rivals, apontou que a falta de originalidade foi o maior problema de Concord. “Há um custo de troca”, disse Sasser. “Já investi no Overwatch, tenho 15 skins para Pharah, não vou a lugar nenhum.” Jogos como serviço exigem algo muito valioso de um jogador: o tempo, e para que um título como Marvel Rivals “capture” o player, ele precisa ter um diferencial que justifique a troca de um jogo que você já investiu muito de seu tempo e dinheiro. E Concord não ofereceu nenhum.
Além do fator diversão, claro, estamos falando da Marvel. Quem não quer ser a Tempestade ou o Doutor Estranho em um jogo? Eles não só entregaram um gameplay criativo com todos os personagens disponíveis, mas também criaram uma experiência visualmente belíssima.
O sucesso de Marvel Rivals e o futuro
Desde o seu lançamento, em 6 de dezembro, o hero shooter da NetEase acumulou números impressionantes, além de ter sido o jogo gratuito mais baixado da PlayStation Store em dezembro. Ele é um fenômeno. E isso porque estamos só no começo.
Com tamanha popularidade, o futuro parece brilhante para o game da Marvel. A NetEase já confirmou que novas temporadas estão em desenvolvimento, prometendo mais personagens, mapas e eventos temáticos todos os meses. Sua primeira temporada, lançada em 10 de janeiro, trouxe o Quarteto Fantástico para o jogo, mostrando que a empresa sabe como manter o jogo interessante.
No entanto, o desafio será manter a qualidade. Muitos jogos como serviço começam fortes, mas perdem força ao longo do tempo devido à repetitividade ou falta de atualizações. Se continuarem ouvindo a comunidade e entregando conteúdos relevantes, o jogo pode se tornar um dos pilares do gênero hero shooter nos próximos anos.
No fim das contas, Marvel Rivals prova que o problema nunca foi o gênero hero shooter ou o modelo de jogos como serviço. O problema sempre foram os jogos ruins, e esse título está mostrando que, com qualidade e respeito ao jogador (características que a empresa chinesa demonstrou ter de sobra até agora), ainda há muito espaço para brilhar.
E você, ainda tem paciência para hero shooters e live-services ou já cansou desses gêneros de jogos? Já jogou o novo sucesso Marvel Rivals? Conta pra gente nos comentários!
Finalmente um jogo extraordinário e de destaque entre os jogos online S2