A Substância: filme está superando o preconceito do Oscar com o terror?

A academia do Oscar tem seus preconceitos, e um deles definitivamente é o terror. Porém, “A Substância”, dirigido pela francesa Coralie Fargeat, conseguiu a façanha de ser indicado a cinco categorias no Oscar 2025, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz para a Demi Moore. Depois de décadas em que o gênero foi ignorado pela premiação, o longa chega para mudar essa narrativa com um terror psicológico, que mistura o Body Horror, com críticas sociais sobre o envelhecimento feminino no mundo das celebridades, e a pressão por padrões de beleza.
Além de “A Substância”, outros dois filmes de terror conquistaram indicações na premiação, o obscuro “Nosferatu”, de Robert Eggers, que conseguiu emplacar quatro indicações técnicas: Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e Penteados, Melhor Design de Produção e Melhor Fotografia. Junto com “Alien: Romulus”, que foi indicado na categoria de Melhores Efeitos Especiais. Sendo a primeira vez em 40 anos, que três filmes de terror lançados no mesmo ano são indicados ao Oscar. É um pequeno passo para os fãs do gênero, mas um grande avanço para a Academia, que historicamente sempre torcia o nariz para reconhecer o terror como uma arte digna de prêmios.

Mas será que o Oscar realmente mudou sua postura em relação ao gênero, ou só estamos diante de uma exceção especial nesse ano?
O preconceito histórico do Oscar com o terror
Nos últimos anos, o diretor Jordan Peele tentou mudar o jogo com o longa “Corra!” (2017), que conseguiu quatro indicações e venceu Melhor Roteiro Original, mas teve que carregar o rótulo de “filme de crítica social” para ser levado a sério. Segundo o professor Adam Lowenstein, da Universidade de Pittsburgh, o problema vem de uma visão elitista dos membros da Academia, que consideram o terror um gênero “de segunda classe”. O terror é frequentemente rotulado como algo “banal” ou “gratuito”, seja nos sustos, seja na violência, o que faz com que os votantes nem considerem o gênero para os prêmios principais.

O que explica, por exemplo, que filmes como O Silêncio dos Inocentes (1991) tenham quebrado barreiras ao vencer cinco Oscars, incluindo Melhor Filme. Já que, apesar de ser tecnicamente um terror, ele flerta muito mais com o suspense psicológico. O mesmo vale para Cisne Negro (2010), que levou a estatueta de Melhor Atriz para a Natalie Portman, e indicado a outras quatro estatuetas, mas foi tratado como um drama sombrio pela Academia.
Essa linha tênue entre terror “puro” e suspense/drama é o que separa os filmes que conseguem indicações daqueles que passam longe.
Esnobados e os únicos vencedores do terror no Oscar
A resistência da Academia ao terror já é bem antiga, e obras aclamadas acabaram sendo totalmente esnobadas durante os anos. “Hereditário”, “Midsommar”, “Nós” e “Pearl” são apenas alguns exemplos. Atuações excepcionais como as de Toni Collette, Florence Pugh, Lupita Nyong’o e Mia Goth (a neta da atriz brasileira Maria Gladys) acabaram ficando de fora da premiação, demonstrando o preconceito da Academia contra o gênero.
Em quase 100 anos de Oscar, apenas seis filmes de terror foram indicados a Melhor Filme, mas, com a chegada de “A substância” em 2025, esse número subiu para sete. Destes, só “O Silêncio dos Inocentes” (1991) levou a estatueta. É até estranho imaginar que alguns clássicos como “Psicose”, “O Iluminado”, “O massacre da Serra Elétrica” e “O Enigma de Outro Mundo”, que tornaram-se marcos culturais, tenham sido esnobados ou nem sequer receberam a chance de disputar o troféu.

Apesar do histórico negativo, alguns filmes de terror conseguiram triunfar no Oscar, mesmo que de forma isolada. Aqui vai a lista dos poucos sortudos:
- O Médico e o Monstro (1931): Melhor Ator para Fredric March.
- Drácula de Bram Stoker (1992): Melhor Figurino, Maquiagem e Efeitos Sonoros.
- O Fantasma da Ópera (1943): Melhor Direção de Arte.
- O Exorcista (1973): Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som.
- Um Lobisomem Americano em Londres (1981): Melhor Maquiagem.
- Louca Obsessão (1990): Melhor Atriz para Kathy Bates.
- O Silêncio dos Inocentes (1991): Melhor Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro Adaptado.
- Cisne Negro (2010): Melhor Atriz para Natalie Portman.
- Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007): Melhor Direção de Arte.
- A Profecia (1976): Melhor Trilha Sonora Original.
- A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999): Melhor Direção de Arte.
O terror finalmente ganhará espaço com o sucesso de ‘A substância’?
Se “A Substância” e “Nosferatu” ganharem ao menos uma estatueta em março, será um marco para o gênero, mas ainda é cedo para comemorar uma mudança significativa no Oscar. A Academia tem um histórico de flertes ocasionais com gêneros do “povão”, como filmes de fantasia, ficção científica, e os próprios longas de terror, apenas para voltar à zona de conforto no ano seguinte.
A realidade é que o terror tem muito mais a oferecer do que apenas sustos e gore. Ele aborda questões psicológicas, sociais e filosóficas que poucos gêneros conseguem explorar com tanta profundidade e metáforas. Mas uma coisa é certa: se a elite do cinema achava que podia continuar ignorando o terror, 2025 está mostrando que os monstros estão finalmente saindo das sombras.
O Oscar acontece no dia 2 de março, e você pode acompanhar a cobertura do Blog Amargurado por aqui e nas nossas redes sociais!
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