Gaga não tem hit solo há 14 anos? Uma análise de sua carreira

Gaga não tem hit solo há 14 anos? Uma análise de sua carreira
Gaga não tem hit solo há 14 anos? uma análise de sua carreira - Foto: Abracadabra/Lady Gaga/Interscope/Youtube

Faz alguns anos que a frase “a Gaga não tem hit solo desde 2011” roda a internet, como uma zoação boba com a cantora. Muitos afirmam que sua carreira decaiu quando lançou seu divisor de águas e polêmico álbum, Artpop. A grande questão que muitos se perguntam seria: por que ela não voltou a fazer aquele sucesso? Lady Gaga também anunciou recentemente seu novo álbum que promete acabar com esse marasmo. Será que vai vingar?

Não existe uma só resposta para estas perguntas, e muito menos, respostas curtas. A verdade é que, para entender este “limbo” atual da cantora, é necessária uma análise de diversos fatores da carreira de Stefani Germanotta e do próprio funcionamento da indústria musical. Então, senta que lá vem história.

Seu grandioso início

Lady Gaga é uma artista que se consolidou muito rapidamente com sua estética única e produções elaboradas. Em apenas três anos de carreira, a já considerada diva pop, acumulava não só números, como uma legião de fãs. Foi então que em 2011, Gaga lançou um dos maiores atos de sua carreira, o Born This Way. O álbum foi e é até hoje, um grande marco na cultura LGBTQIAP+ e na cultura pop, com composições íntimas e sinônimas de liberdade, além de músicas super dançantes com clipes obscuros que atingiram números estrondosos nos charts da época, com 1,1 milhões de cópias vendidas, provando que o impacto da Mother Monster seria duradouro.

Gaga não tem hit solo há 14 anos? uma análise de sua carreira
Foto: Capa de Born This Way/Interscope

Após dois anos de Born This Way, veio seu quarto álbum: Artpop. Esta “era” da cantora acaba dividindo opiniões e deixa dúvidas do por que é tão falada. O álbum tem músicas bem produzidas, versáteis, inovadoras e pode-se dizer, após diversos veículos refazerem suas críticas atualmente, que a nariguda foi à frente de seu tempo, visto que agora estamos vivendo “a era Brat” de Charli XCX, que bebe de algumas mesmas influências.

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Foto: Capa do Artpop/Interscope

Onde os problemas começam

Ao contextualizar o Artpop, é importante mencionar que 2013 foi um ano muito grande para indústria musical, com inúmeros lançamentos, como o álbum surpresa auto intitulado por Beyoncé, Miley Cyrus saindo da Disney, Daft Punk com Pharrell Williams, entre muitos outros hits. Trabalhando com isso, Lady Gaga e sua equipe prepararam uma promoção que levou meses pré-lançamento do álbum e prometia algo jamais visto na indústria… E então, começou a sucessão de pequenos imprevistos.

Para este projeto, a artista dedicou suas ambiciosas ideias e todo seu trabalho à explorar e criar arte e pop. Como o próprio slogan da campanha diz “artpop pode significar qualquer coisa”. Seguindo esta filosofia, Gaga planejou um álbum também visual, com clipes para todas as faixas e uma trajetória de singles que contassem uma história. Não foi o que realmente ocorreu. 

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Foto: Photoshoot Artpop/Inez & Vinoodh Photo Shoot

Grande parte das ideias de roteiro e linearidade da cantora foram barradas de última hora por diversos produtores, o que se juntou à intensa mudança de agendas por vazamento de músicas.

Os leak aconteceram com Aura, faixa que seria o single principal do álbum. Como estratégia, foi substituída por Applause, que também acabou sendo vazada. Isto fez com que o lançamento fosse reagendado para a mesma semana que o master hit Roar, de Katy Perry seria lançado, o qual fez mais números que Gaga. Além do próximo single previsto, Venus, que foi trocado pela faixa Do What You Want em colaboração com o rapper R. Kelly, que logo na época, protagonizava rumores de pedofilia e abuso infantil.

Não acabou ainda

A cantora, para a semana de apresentação oficial do álbum, organizou uma exposição de arte: a ArtRave, onde explicou todo o conceito de seu novo trabalho. O evento, entretanto, acabou sendo abandonado de última hora pelo patrocinador e Lady Gaga teve que arcar com mais de 3 milhões de dólares para realizar o evento. 

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Foto: ArtRave/LaMaisonGaga

Enfim, a cereja do bolo foi quando a artista, dias antes do lançamento do álbum, rompeu com seu empresário de anos, Troy Carter, por diferenças criativas. Mesmo neste tumulto todo, Gaga finalmente lançou o LG4 em novembro de 2013.

Apesar de todos os tropeços na divulgação, o álbum atingiu o número 1 nos charts da Billboard por pouquíssimo tempo. De acordo com dados da Nielsen SoundScan, a queda de vendas do Artpop em sua segunda semana foi de aproximadamente 82%. O álbum chegou a receber o apelido de “Artflop” pelos internautas. A artista sofreu com duras mensagens nas redes sociais e uma cruel retaliação pela própria indústria, o que a levou a uma grave depressão. Pode-se dizer que foi um momento que redefiniu não só Lady Gaga como artista e pessoa, como sua fanbase e público em geral.

Gaga não tem hit solo há 14 anos? uma análise de sua carreira
Foto: Post no X sobre Gaga não ter hit solo há 14 anos/X(Twitter)
Gaga não tem hit solo há 14 anos? uma análise de sua carreira

Foto: Meme do X sobre Gaga não ter hit solo há 14 anos/X(Twitter)

Momento de se reinventar

Após o considerado fracasso de Artpop, mamãe Gaga tomou um caminho diferente, tentando se desvencilhar totalmente do que havia ocorrido em 2013. Logo no ano seguinte, partiu para seu primeiro álbum colaborativo, com o disco de jazz Cheek To Cheek, com Tony Bennett. A artista já havia mencionado sua paixão pelo estilo e seu desejo de trabalhar com diversas musicalidades diferentes. O projeto foi aclamadíssimo pela crítica e garantiu aos dois um Grammy de Melhor Álbum Pop Vocal Tradicional. Entretanto seus fãs, que estavam acostumados com o estilo ousado da diva e esperavam outros hinos LGBTs, se decepcionaram.

Após isso, Gaga surgiu com não só um, mas dois projetos novos. Um deles sendo o álbum country, Joanne, para homenagear suas raízes, e o outro, algo inédito. O papel de uma condessa na quinta temporada da premiada série de terror, American Horror Story.

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Foto: Gaga como Condessa para American Horror Stories/Entertainment Weekly

Liricamente, o álbum se aprofunda no tema familiar e as emoções da vida; a morte de sua tia, Joanne Stefani Germanotta, influenciou profundamente o disco. Gaga dizia estar em um estado de espírito mais limpo e que considerava este projeto uma busca de sua alma. 

De mal a pior

Pode parecer irônico, mas ambos projetos foram ridicularizados na época. O LG5 recebeu críticas morníssimas e muitos de seus fãs o consideram seu pior álbum. Mesmo o disco atingindo o topo da Billboard 200, seu main single Perfect Illusion definitivamente não agradou muito. Apesar disso, o lead single, Million Reasons, foi considerado um sucesso comercial, debutando na quarta posição da Billboard Hot 100.

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Foto: Capa de Joanne/Collier Schorr Photo Shoot [Joanne]
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Sua temporada em AHS: Hotel, não saiu ilesa. Foi criticada como a pior temporada da série. Mesmo assim, sua participação lhe rendeu um Globo de Ouro como Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV.

Época de tumulto

Logo em 2017, Lady Gaga, foi a atração principal do show de intervalo do SuperBowl e Coachella, o que gerou de volta um enorme hype para a diva. Nisso, ela lançou o novo single The Cure, que alcançou a 39ª posição da Billboard Hot 100. Neste ano promissor, a cantora entrou em turnê mundial e confirmou sua presença no Rock In Rio no Brasil. Infelizmente sabemos muito bem o decorrer deste. “Brazil, I’m devastated.” foi uma frase que marcou muitos Little Monsters e definitivamente a fez novamente ser motivo de piada na internet. 

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Foto: Tweet de Gaga cancelando seu show no Rock In Rio/X(Twitter)

O cancelamento do show se deu por motivos de saúde, onde Gaga sofria com dores agudas e crônicas no quadril, decorrentes de uma condição chamada fibromialgia. Apesar disso, seus fãs acharam um grande desrespeito a artista ter anunciado que não viria mais apenas um dia antes de sua performance.

Em seguida, após intensos tratamentos, a querida italiana de Nova Iorque surpreendeu seu público mais uma vez com um gigantesco comeback. E dessa vez, nas telonas. Lady Gaga foi anunciada como a nova protagonista do icônico filme de 1937, “Nasce Uma Estrela”, junto ao ator Bradley Cooper.

Os críticos aclamaram Gaga por seu trabalho, no qual contribuiu também com a trilha sonora. A diva foi nomeada ao Oscar de melhor atriz e vencedora da categoria de melhor canção original, à qual levou a estatueta pela música “Shallow”. Com este feito, se tornou a primeira artista musical a vencer cinco premiações na mesma temporada: Oscar, Grammy, Globo de Ouro, Bafta e Critics’ Choice. Além de seu single para a produção, Always Remember Us This Way, que estreou na 41º posição da Billboard Hot 100, permanecendo por nove semanas na parada.

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Foto: Lady Gaga no Oscars/David Crotty

Ela vem aí a qualquer momento

Para 2020, a nariguda tinha muitos objetivos com seu recém anunciado álbum “Chromatica”. O LG6 prometia trazer o típico pop de balada, extremamente dançante e com influências eletrônicas….. e trouxe. O primeiro single, Stupid Love debutou na quinta posição dos charts, ao contrário do que muitos apontam ter sido um flop, e todos estavam ansiosos pelo disco. Inesperadamente, o problema desta vez foi o mesmo problema que o mundo todo teve que enfrentar: a pandemia do Covid-19. O lançamento do Chromatica foi adiado por alguns meses, mas com o decorrer do avanço do vírus e sem previsões de melhorias, Gaga soltou o álbum em maio de 2020. 

Como segundo single, a faixa “Rain On Me”, com feat de Ariana Grande quebrou as paradas atingindo o número um. Isto fez com que Ariana se tornasse a primeira artista a debutar 4 vezes no topo dos charts e também que Gaga se juntasse a Beyoncé e Mariah Carey como as únicas artistas a alcançar o topo em três décadas consecutivas. A canção rendeu às divas pop um Grammy de Melhor Performance de Duo/Grupo.

Gaga Rain on me
Foto: Ariana e Gaga no clipe de Rain On Me/Interscope/Youtube

Uma verdadeira mãe

Em 2021, para manter seus fãs entretidos, lançou o Dawn of Chromatica e o Love For Sale. Respectivamente um álbum de remixes do original LG6, onde colaborou com diversos DJs e cantores como Ashnikko, Charli XCX e nosso próprio tesouro nacional Pabllo Vittar. O outro, mais um projeto colaborativo de jazz com Tony Bennett. Esse também foi o ano em que deu continuidade à sua carreira de atriz, protagonizando o filme “House of Gucci”.

Eventualmente com a regularização da quarentena e o controle do COVID-19 pelas vacinas, a mãezinha embarcou finalmente em turnê, com o Chromatica Ball. No final do ano, ela se tornou a artista feminina de maior bilheteria em turnê em 2022 e foi nomeada copresidente do Comitê Presidencial de Artes e Humanidades pelo presidente Joe Biden. Não deixando de trabalhar com música, não apenas interpretou a canção tema de Top Gun: Maverick, “Hold My Hand” e compôs a trilha sonora, como também participou de várias colaborações com artistas super renomados como Rolling Stones e Stevie Wonder.

A gata está sempre ocupada

Enfim chegamos ao momento atual da carreira de Gaga. Pode-se dizer que 2024 foi um ano cheio para a diva. Dentro de 6 meses, ficou noiva, cantou na abertura das Olimpíadas de Paris, estrelou como Harley Quinn em “Coringa: Folie à Deux”. Também foi chacota pelo filme não ser o que ninguém esperava (apesar de sua boa interpretação) e compôs e produziu o álbum “Harlequin”, baseado no filme e em sua interpretação da personagem. 

Gaga Olimpíadas 2024
Foto: Lady Gaga para as Olimpíadas 2024/Instagram

O apelidado “LG6.5” estreou na vigésima posição da parada Billboard 200 com 25.000 cópias vendidas em sua primeira semana, tornando-se a menor estreia de Gaga na parada para um álbum completo. Recebeu críticas mistas por mais um álbum de jazz, e junto às reações ao filme.

Mas não acaba por aí. Lady Gaga e Bruno Mars em uma colaboração totalmente diferente do que se imaginava, conseguiram emplacar um dos maiores hits do ano com Die With a Smile. A música debutou em terceiro lugar na Billboard Hot 100 e atingiu o topo do Spotify, Apple Music e iTunes. Posteriormente chegou ao topo da Billboard Global 200 por semanas. 

Em contrapartida, apenas 2 meses após o hit com Mars e um mês após Harlequin, a mamãe resolveu voltar à sua skin original aos 45’ do segundo tempo. 

Comeback deu errado?

De surpresa, Gaga anunciou “Disease”, o lead single do LG7, que saiu no final de outubro de 2024, em um estilo dark e electro pop, e recuperou um pouco a essência de Mother Monster. Com uma batida, clipe e letra intensos, a faixa puxa para estética horror que Gaga costumava ter. Ainda assim, recuperar todo um estilo e público específico demora, mesmo se você é a Lady Gaga, ou seja, a música debutou mal. Conquistando o vigésimo sétimo lugar na Billboard Hot 100, esta foi sua pior entrada para um lead single.

Gaga Disease
Foto: Lady Gaga para Disease/Inside Out

Pode-se dizer que a crítica realmente gostou da canção. Gaga recebeu diversos elogios por conta de sua produção, vocais e composição, contudo, não teve muitas pessoas que de fato ligaram para seu comeback. Até hoje, muitos de seus fãs e público que esperam sua volta nem sequer escutaram a música. 

Ela vem SIM!

Apesar dos apesares, recentemente, no dia 27 de janeiro deste ano, a diva finalmente anunciou seu sétimo álbum: Mayhem. Desse modo, em uma estética dark punk, o nome “caos” ascende novamente as esperanças de um retorno estilo “The Fame Monster”. O disco deve sair dia sete de março e tem “Disease” como seu lead single e “Die With a Smile” na soundtrack.

Gaga Mayhem
Foto: Capa de Mayhem/Instercope

A mamãe também foi prometida aqui no Brasil em maio deste ano! Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, confirmou que está no final de negociações para trazer Lady Gaga para a praia de Copacabana em um show gratuito no dia três de maio de 2025.

Além disso, nesta madrugada de domingo para segunda-feira pós-Grammy, Lady Gaga lançou seu novo single “Abracadabra” que está prometendo trazer ela de volta aos charts. A música é dançante, com influências eletrônicas e um clipe extremamente dark. A Mother Monster aparece umas vezes em destaque em vermelho, rodeada por um balé em uma coreografia não convencional. A faixa debutou em #8 nos charts e subiu para #2 no ranking global, fazendo a mãezinha estar atualmente com dois singles no topo das paradas, visto que “Die With A Smile” ocupa o primeiro lugar. Abracadabra também atingiu a marca de 6,8 milhões de visualizações no YouTube em 24 horas, se tornando sua melhor estreia solo nos últimos anos. Podemos dizer que agora Gaguinha está recuperando suas origens e seu público de monstrinhos.

Neste último Grammy Awards, que aconteceu no domingo(02), a artista e Bruno Mars também conquistaram o prêmio de Melhor Música de Duo/Grupo com Die With A Smile.

Foto: Lady Gaga e Bruno Mars aceitando o Grammy/Kevin Mazur

A mamãe sempre sustentou

Em conclusão, Gaga tem sim uma dificuldade para voltar ao status que tinha no começo de sua carreira, porém, isto não significa que a gata não faça sucesso por onde pisa. Até porque, a indústria também não permaneceu a mesma. A cultura de charts hoje em dia é 100% outra, além de uma enorme diversidade de artistas e usuários em plataformas de streaming que foram surgindo ao longo dos anos.

Stefani é uma mulher peculiar. Mentirosa? Sim, doidinha? Muito, impulsiva? Também, mas ainda assim, um dos maiores atos da indústria. Tem diversos trabalhos impecáveis e renomados em seu currículo e tem todo direito de poder explorar ambientes novos. Sobretudo, um carisma de outro mundo além de seu coração imenso. É fácil notar que o público em geral tem uma dificuldade muito grande em aceitar e receber novas facetas de artistas, principalmente mulheres. Artistas masculinos não são cobrados desta forma e muito menos alvos de hate massivo, e olha que eles nunca inovam no nível da Gaga. E por último, mas não menos importante, não podemos esquecer que quase TODOS seus lançamentos, desde Artpop, vazaram. Esperamos que com Mayhem não aconteça. 

Gaga não tem hit solo há 14 anos? uma análise de sua carreira
Foto: Lady Gaga para o SAG Awards 2019/Vogue

Portanto, mesmo com todas as críticas que vêm de todos os lados, a narigudinha nunca deixou de fazer o que ama e ser autêntica à suas próprias vontades e criatividade. É assim que se fazem artistas de verdade e é assim que se constrói um legado que ficará para a história. Ansiosíssimos para o Mayhem e para o show da diva em Copa.

Giovanna de Paula

Nascida em 2003 no interior do Rio de Janeiro, jornalista em formação pela UFRJ e entusiasta da versatilidade e poder da comunicação. Desde cinema e música pop até história e política, amo poder estudar, escrever e comunicar sobre diferentes pontos que fazem o mundo o que ele é, e suas intersecções.

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