“Capitão América: Admirável Mundo Novo” é fast-food da Marvel com gostinho dos velhos tempos

Às vezes, não ser um desastre já é uma grande conquista. Com uma produção conturbada, passando por diversas regravações e mudanças de roteiro,“Capitão América: Admirável Novo Mundo” (não confundir com a música da cantora Pitty), chegou aos cinemas nesta quinta-feira (13) com a missão de consolidar de vez Sam Wilson como o novo Capitão América do UCM. Em um momento no qual o Universo Cinematográfico da Marvel precisa se reinventar, o filme entrega uma história que tenta resgatar a essência de “O Soldado Invernal” (2014), mas sem a mesma força.
Apesar de um protagonista extremamente carismático (sério, Anthony Mackie é a personificação do carisma) e cenas de ação bem maneiras, a produção falha em explorar todo o peso simbólico de Sam Wilson como Capitão América, escolhendo uma abordagem mais genérica, sem ousadia e bem “padrão Marvel”.
A trama de “Capitão América: Admirável Mundo Novo”
O longa acompanha Sam Wilson (Anthony Mackie), em sua primeira aparição no UCM desde a série “Falcão e Soldado Invernal” (2021), tentando se firmar como o novo Capitão América em um mundo cada vez mais caótico, e sem os heróis mais poderosos da Terra para protegê-lo. O filme pega diversos elementos esquecidos há muito tempo no UCM, principalmente do filme “O Incrível Hulk” (2008), trazendo de volta personagens como Samuel Sterns, o Líder (Tim Blake Nelson), que retorna como o grande vilão. A trama também resgata o personagem Thunderbolt Ross, agora presidente dos EUA, e sendo interpretado por Harrison Ford, após o falecimento do ator William Hurt.
A história gira ao redor da exploração política da ilha celestial congelada no oceano, que surgiu no injustiçado “Eternos” (2021), e finalmente tem alguma relevância no universo. Abrindo portas para a introdução do adamantium e, possivelmente, dos mutantes no universo cinematográfico da Marvel. O filme bebe muito da fonte de “Capitão América: O Soldado Invernal” (2014), misturando espionagem, conspiração e cenas de ação bem coreografadas, mas sem a mesma profundidade.
A construção de Sam Wilson como Capitão América
O grande acerto do filme é permitir que Anthony Mackie traga mais da sua personalidade para Sam Wilson. Nos filmes anteriores, ele sempre esteve na sombra de Steve Rogers, mas aqui temos um Sam mais solto, confiante e carismático. Sua dinâmica com Joaquin Torres (o novo Falcão, interpretado por Danny Ramirez) e Isaiah Bradley (Carl Lumbly) é um dos pontos fortes do longa.
No entanto, o filme desperdiça a oportunidade de abordar um dos aspectos mais importantes da jornada de Sam nos quadrinhos: o impacto de um homem negro vestindo o manto do Capitão América. Em “Falcão e o Soldado Invernal”, a série não fugiu de debates sociais sobre racismo e o peso desse título na sociedade. Já aqui, o filme prefere jogar no seguro e ignorar essas questões, tornando-se um produto muito mais genérico e sem relevância social, ao contrário do que “Pantera Negra” fez em 2018.
Em um momento histórico como o atual, com Donald Trump reeleito presidente dos EUA, além de questões raciais e imigratórias tão em alta, ignorar esse debate torna “Admirável Novo Mundo” uma oportunidade desperdiçada. Sam Wilson já é o Capitão América desde 2021, mas o filme poderia ter mostrado melhor como a sociedade está reagindo a isso.

Vilões e a influência de “O Incrível Hulk” de 2008
A escolha de vilões também é um ponto questionável. Ao invés de usar antagonistas clássicos do Capitão América, o filme se apoia em vilões do Hulk, como o Líder e o General Ross. Isso o torna mais uma continuação direta do filme de 2008, do que realmente uma trama para construir a mitologia própria de Sam Wilson. Fica claro como Kevin Feige está tentando conectar as pontas soltas de 17 anos atrás, ao mesmo tempo que tenta construir uma história sobre o Hulk sem o Gigante Esmeralda, uma ideia que ele já usou em “Thor: Ragnarok”, com a trama do verdão em Saakar.
Harrison Ford entrega uma versão mais sensata e ponderada de Ross, sem o temperamento explosivo que William Hurt tinha no papel. O ponto alto do filme é a luta entre Sam e o Hulk Vermelho, que foi divulgada exaustivamente em todos os materiais promocionais possíveis. A cena eleva o personagem de Anthony Mackie, mostrando que ele segura bem o protagonismo e as cenas de ação. Mesmo com o CGI aquém do esperado (momento fiscal de CGI), eles conseguiram entregar um bom embate, e Sam realmente sofre para conseguir “parar” Ross.

O Líder de Tim Blake Nelson, por outro lado, acaba sendo um vilão pouco ameaçador e caricato, apesar disso, sua permanência no UCM pode indicar algo maior para o futuro. Inclusive, a única cena pós-créditos, que tem uma relação com o vilão, traz mais uma promessa vaga sobre o multiverso, o que já virou rotina nos filmes da Marvel. Dá facilmente para imaginar que essa foi uma das cenas regravadas e adicionadas recentemente no longa.
Conclusão
No fim, Capitão América: Admirável Mundo Novo não é o desastre anunciado que estavam prevendo, mas também não é um grande acerto. Anthony Mackie prova que merece o protagonismo e não precisa do soro de super-soldado (sério, alguém coloca esse homem em mais projetos!), mas o filme deixa a sensação de que poderia ter sido muito mais. No fim das contas, ele se contenta em ser um thriller de espionagem bem básico, que remete aos filmes da Marvel entre 2014 e 2017, quando as produções eram mais contidas e sem pretensões grandiosas.
Não é uma catástrofe, o que já é uma vitória considerando os problemas de produção que enfrentou. Mas Sam Wilson e Anthony Mackie mereciam um filme muito maior, mais impactante e à altura do que esse novo Capitão América representa.
E você, acha que o UCM desperdiçou o potencial do Sam Wilson nesse filme ou ele conseguiu se consolidar como o novo Capitão América de vez? Conta pra gente aqui embaixo!