Jão vai sumir, mas será que fará mesmo falta?

Recentemente, o cantor Jão anunciou uma pausa em sua carreira. Apesar de deixar claro que não havia nada muito profundo acontecendo e que se tratava apenas de não ter nada novo para dizer no momento, isso preocupou demais alguns fãs.
O artista reclamou da necessidade que o Brasil possui da “onipresença” que o mercado exige. Esse é justamente o tópico que pretendo abordar nesta publicação: é possível dar uma pausa no nosso país?
A TRAJETÓRIA DE JÃO ATÉ AQUI
Começando nos covers, indo do pop depressivo “Vou Morrer Sozinho” até a sensual “Pilantra”, com Anitta, o menino do interior construiu, em poucos anos, o que muitos tentam por décadas sem sucesso: um grupo grande e fiel de fãs.
Ele com certeza não tem os melhores números, mas, apesar disso, sempre lota os seus shows. As turnês de Jão são respeitadas e fazem até quem torce o nariz precisa admitir que ele entrega o que promete.

Com 4 álbuns em 7 anos, não dá nem para dizer que a rotina de Jão é tão exaustiva assim. Há cantores que produzem e lançam conteúdo com um ritmo muito mais frenético e parecem bem com isso. Claro, é evidente que existe uma diferença: Jão escreve tudo o que canta, coisa que não pode ser dita sobre toda celebridade da música.
Esse fator, inclusive, com certeza contribui para um esgotamento mental, até porque uma coisa é criticarem o seu trabalho, outra coisa é criticarem basicamente a sua vida. Na estreia de “Super”, o Estadão detonou o projeto com a seguinte frase: “Suas músicas não expressam sua idade. Clichê, vocais melodramáticos e letras caricatas.”
O popstar rebateu em “Modo de Dizer”, liberado no deluxe de Super:
“E dependendo do que eu digo / Capaz que saia no jornal / Que com essa idade, ficou meio tarde / Pra ser tão sentimental”
Consegue entender onde quero chegar? Outro ponto sobre a “onipresença” é entender que a estrela está longe de seguir o padrão “Virgínia” de celebridade ou subcelebridade.
Artistas grandes, a exemplo de Beyoncé e Taylor Swift, cada vez mais estão se ausentando das redes sociais e dos olhos do público, aparecendo apenas quando querem vender ou divulgar um álbum ou produto. Isso é totalmente justificável, com o cancelamento e a cobrança excessiva do público e da mídia, com uma lupa enorme julgando cada fala e atitude.
A questão é que o povo, principalmente o brasileiro, quer consumir 24 horas por dia aquilo que gosta. Quer detalhes, informações, saber absolutamente tudo da vida do famoso. Estamos na era do engajamento e, quem não aparece, não engaja.
ELE VAI, MAS ELE VOLTA?
Conhecido como “comeback”, é comum na indústria fonográfica internacional que um cantor fique fora dos holofotes após o término de uma era, enquanto trabalha na próxima. Tal estratégia gera uma ansiedade nos fãs e não deixa que a imagem do músico se desgaste.
Não é à toa que nomes como Adele ou Lady Gaga fiquem anos sem um novo disco. É evidente que não é todo mundo que faz isso — só quem “pode”, por assim dizer. Gente grande gera expectativa, porém quem não está nesse patamar corre o risco de cair no esquecimento.
No Brasil, isso é ainda mais complicado. Não existe essa cultura do “comeback”, pelo contrário, aqui são valorizados diversos singles por ano, sem pausa, sem nada.
Um sistema meio “Não quer trabalhar? Tudo bem, a gravadora te substitui em dois segundos.” Todavia, é possível que isso aconteça com o Jão?
Por um lado, sim, é claro que é possível. Por outro, existe mesmo a chance de que ele seja tão facilmente trocado? Desconfio que não.
O gênero pop no nosso país está longe de ser tão forte e, quando falamos de artistas masculinos, é pior ainda. Se parar para pensar, os homens mais relevantes do pop nacional são drag queens.
Por essas e outras, acredito que Jão pode relaxar em paz. Só o futuro dirá se ele superará o teste do tempo, mas estaremos aqui de braços abertos para recebê-lo.
O fato é que atualmente o dono do hit “Idiota” é uma peça importantíssima na nossa música.