Nova animação “A Mais Preciosa das Cargas” retrata a guerra com um outro olhar

Nova animação “A Mais Preciosa das Cargas” retrata a guerra com um outro olhar
Nova animação "A Mais Preciosa das Cargas" retrata a guerra com um outro olhar- Foto: "A Mais Preciosa das Cargas"/Divulgação

O longa-metragem “A Mais Preciosa das Cargas” é a mais nova animação do diretor francês Michel Hazanavicius. O ganhador do Oscar em 2012, por “O Artista”, traz aos cinemas brasileiros sua nova produção, que estreia hoje, 17 de abril. Anteriormente exibido no Festival de Cannes 2024, o filme retrata um pouco do cotidiano da Segunda Guerra Mundial e seus horrores.

Nova animação "A Mais Preciosa das Cargas" retrata a guerra com um outro olhar
Foto: Cartaz Oficial de “A Mais Preciosa das Cargas”/Divulgação

O filme é baseado no conto “The Most Precious of Cargoes” do dramaturgo francês Jean-Claude Grumberg, que viveu na própria pele a dor da perda de ter seu pai levado pelos nazistas para Auschwitz, durante a guerra.

Confira a crítica:

Ainda há humanidade em tempos difíceis

A animação narrada, a princípio, foca em contar sobre um pobre casal de um lenhador e sua esposa, que é incapaz de ter filhos. A mulher acaba encontrando na neve, um bebê, que caiu de um trem nas proximidades de sua residência, recebido como um milagre por ela. Entretanto, a realidade pode ser um pouco mais dura. A pequena garotinha foi lançada da locomotiva por seu pai, como uma tentativa de salvá-la do destino final, os campos de concentração.

Ao resgatar a menina, a esposa sofre duras repreensões de seu marido que, de início, rejeita a criança por ser da “raça dos sem coração”. Apesar disso, o lenhador rapidamente se afeiçoa à pequena. Contudo, a sucessão de tragédias logo afeta a família, quando seus colegas de trabalho descobrem a real origem da bebê.

Nova animação "A Mais Preciosa das Cargas" retrata a guerra com um outro olhar
Foto: “A Mais Preciosa das Cargas”/Divulgação

Tragédia de todos

Durante “A Mais Preciosa das Cargas”, o filme não conta com muitos diálogos ou falas, mas eles não se fazem necessários. Com a atmosfera obscura construída pelo diretor e com uma narração calma, porém forte, é subentendido o período em que se passa. Inclusive, em momento algum os termos “nazismo”, “judeus”, “campo de concentração”, ou até mesmo “Segunda Guerra Mundial” são mencionados. As cenas falam muito bem por si ao representar o holocausto com elementos bem característicos.

Além disso, o longa tem uma virada de foco. A narrativa passa a alternar entre a vida da menina, e também, a sofrida rotina de seu pai nos campos.

Apesar da temática sensível, o estilo cartunesco e as cores vibrantes dão uma amenizada na tensão constante da obra. Pode-se dizer que os traços do filme, apesar de fortes, são um respiro de ar fresco na indústria atual de animação, que anda trabalhando muito com os desenhos 3D.

Nova animação "A Mais Preciosa das Cargas" retrata a guerra com um outro olhar
Foto: “A Mais Preciosa das Cargas”/Divulgação

Como realmente aconteceu

Atualmente, muitos se questionam sobre como atitudes tão grotescas eram cometidas contra tantos inocentes e se estes atos eram simplesmente aceitos. Para isso, além das tragédias, o longa também trabalha muito bem ao mostrar o ponto de vista da população da época sobre a guerra. É muito importante não ignorar o contexto social e os meios de comunicação que as pessoas se encontravam nos anos 1940, assim como notar a fácil manipulação de informações que o governo tinha.

Grande parte das pessoas se encontrava em situação de pobreza após a Grande Guerra (1º Guerra Mundial), sem o acesso a estudos e notícias. Assim, se fez muito fácil para a ditadura nazista iniciar a narrativa de que “a Alemanha está do jeito que está por culpa dos Judeus”, que é um povo com uma forte herança de riquezas e princípios religiosos divergentes. A obra retrata isso perfeitamente ao mostrar os lenhadores condenando os “sem coração” de terem dado início a guerra porque “mataram Deus” e roubaram todo dinheiro do país.

A obra francesa, então, oferece uma sucessão de imagens pesadas e perturbadoras ao transicionar de cenas. A esposa, com sua filha ao lado, chega à conclusão que Deus não existe, em contraste com o pai prisioneiro caindo numa pilha de cadáveres. Rostos brancos, com as bocas abertas gritando, porém sem som algum e olhos vazios sob um fundo preto, quase como um retrato sinistro de almas em sofrimento no inferno. 

Resistência é amor

Ao chegar na parte final, “A Mais Preciosa das Cargas” retoma o teor de esperança, mas frisando os efeitos terríveis que a guerra causou. Em uma última reflexão, o narrador fala sobre a invisibilização que o holocausto sofreu por anos e o fato de muitos não terem acreditado que essas torturas realmente existiram. Nisso, ele fecha o filme com uma forte citação do conto original

“É esta a única coisa que merece existir, tanto nas histórias como na vida real. O amor, o amor dirigido às crianças, às nossas e às dos outros. O amor que faz com que, apesar de tudo o que existe, e de tudo o que não existe, o amor pelo qual a vida continua. O resto é silêncio”. 

Nova animação "A Mais Preciosa das Cargas" retrata a guerra com um outro olhar
Foto: Capa do conto “A Mais Preciosa das Cargas”/Divulgação

Em conclusão, o longa conta não apenas uma história de tragédia, e sim, mostra a realidade de todo um contexto social de uma guerra. A guerra afeta todos ao seu redor, seja pela fome, pela hostilidade, pela diferença de opiniões, por preconceitos e até mesmo por casualidades, causando mortes e sofrimento sem qualquer tipo de filtro. Não existe lado vencedor em uma guerra, todos perdem, sem exceção.

Nota 4.

Giovanna de Paula

Nascida em 2003 no interior do Rio de Janeiro, jornalista em formação pela UFRJ e entusiasta da versatilidade e poder da comunicação. Desde cinema e música pop até história e política, amo poder estudar, escrever e comunicar sobre diferentes pontos que fazem o mundo o que ele é, e suas intersecções.

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