O fim dos Looney Tunes? Entenda o boicote da Warner aos seus próprios mascotes

O fim dos Looney Tunes? Entenda o boicote da Warner aos seus próprios mascotes
Entre decisões polêmicas e a crise da Warner, os Looney Tunes correm o risco de desaparecer pra sempre (Reprodução/Warner/Collider)

Os Looney Tunes correram, voaram em foguetes, explodiram dinamites e fugiram de caçadores por décadas. Mas, ironicamente, parece que a maior ameaça na história dos mascotes… é a própria Warner Bros. Desde 1930, personagens como Pernalonga, Patolino, Piu-Piu, Coiote, Papa-Léguas e Gaguinho ajudaram a moldar a identidade do estúdio, assim como o Mickey fez com a Disney. São personagens que sobreviveram à Segunda Guerra, à era de ouro dos desenhos animados, à ascensão da TV a cabo, à internet, e agora estão sendo boicotados pela própria casa que os criou.

Nos últimos anos, a forma como o estúdio tem tratado seus mascotes mostra um descaso preocupante com todo esse legado. O que antes era um símbolo da empresa virou sinônimo de cancelamentos, remoções de catálogo, destruição de espaços históricos e uma mudança de foco para marcas mais “lucrativas”. Tudo indica que os Looney Tunes não são mais uma prioridade, então a pergunta é: por que a Warner está sabotando sua franquia mais clássica?

Fracasso de Space Jam 2

Mesmo sendo ícones da cultura pop, os Looney Tunes viraram alvo de um boicote silencioso. Podemos dizer que tudo começou a desandar em 2021, com o lançamento de Space Jam: Um Novo Legado. O filme tentou repetir a fórmula nostálgica do original, dessa vez com LeBron James no lugar de Michael Jordan, e com um festival de fã-services e referências a outras franquias da Warner, como a DC Comics, Game of Thrones, Harry Potter e os desenhos da Hanna-Barbera.

Mesmo com boas intenções, o filme foi massacrado pela crítica, mas o verdadeiro golpe veio na bilheteria decepcionante. Lançado em um período pós-pandêmico, quase ao mesmo tempo que Viúva Negra, o longa estreou simultaneamente nos cinemas e no streaming, prejudicando e muito seu desempenho. Com apenas 163 milhões de dólares arrecadados no mundo todo (o que é muito pouco para um filme desse nível), Space Jam 2 acabou deixando um gosto amargo para a Warner.

Esse fracasso não só enterrou qualquer chance de uma sequência, como também parece ter gerado uma mudança drástica na forma como a empresa enxerga seus mascotes, e continua influenciando todas as decisões relacionadas a eles até hoje.


Looney Tunes Space Jam 2
“Space Jam: Um Novo Legado” não agradou a crítica e ainda teve um desempenho fraco nas bilheteiras no período pós-pandemia (Reprodução/Warner Bros)

O cancelamento revoltante de “Coyote vs. Acme”

Desde então, os sinais de boicote só aumentaram. Um dos episódios mais graves ocorreu com o cancelamento de Coyote vs. Acme, um filme live-action misturado com animação que estava praticamente pronto e vinha sendo elogiado nos bastidores. Em novembro de 2023, a Warner anunciou que não lançaria o longa produzido por James Gunn, escolhendo usá-lo como dedução fiscal, ou seja, declarar um projeto como “prejuízo” para reduzir os impostos que a empresa teria que pagar futuramente.

Essa estratégia, que se tornou comum na gestão de David Zaslav, já havia sido usada no caso de Batgirl, outro filme pronto que também foi engavetado sem ver a luz do dia. A decisão, como era de se esperar, causou revolta entre os profissionais da indústria e fãs, que viram nela um desrespeito não apenas aos artistas envolvidos no projeto, mas também ao legado dos personagens.


  • Quando "Coyote vs. Acme" foi engavetado pela Warner devido a cortes de gastos, quase nada do filme havia sido divulgado. Felizmente, agora teremos a oportunidade de vê-lo completo.
  • Uma pessoa vestida de coiote em frente aos estúdios Warner, protestando para o lançamento de "Coyote vs Acme"
  • Mesmo com as gravações concluídas, "Batgirl" foi engavetado pela Warner por causa de cortes de gastos — e até hoje não viu a luz do dia.

Para a nossa sorte (e com muita pressão pública), o filme encontrou uma nova casa: a Ketchup Entertainment, que adquiriu os direitos por US$ 50 milhões e promete lançá-lo em 2026. A história acompanha o icônico Coiote tentando processar a corporação ACME, após décadas de tentativas fracassadas de capturar o Papa-Léguas com armadilhas defeituosas. Por incrível que pareça, uma das únicas chances dos Looney Tunes voltarem aos holofotes no cinema, veio de fora da própria Warner.

Clássicos deletados da história e o descaso de Zaslav pelas animações

Grande parte das decisões que enfraqueceram a marca Looney Tunes podem ser creditadas ao atual CEO, David Zaslav. Desde que assumiu a Warner Bros. Discovery, Zaslav se destacou por suas decisões polêmicas com foco única e exclusivamente na economia de custos da empresa, mesmo que isso signifique ignorar a parte criativa de seus projetos.

Em 2024, por exemplo, a Warner começou a fazer uma limpa que pegou todo mundo de surpresa. Primeiro, veio o fim do Cartoon Network como conhecíamos, depois o fim do Boomerang, o canal dedicado a animações clássicas. Agora, o golpe mais recente foi a remoção dos curtas clássicos dos Looney Tunes, produzidos entre 1930 e 1969, da Max (o próprio streaming deles!). Segundo a empresa, conteúdos infantis “não são mais prioridade”. O problema é que, ao seguir esse caminho, o estúdio corre o risco de transformar obras históricas em lost media — produções que simplesmente somem, sem chance de serem revisitadas por novas gerações. É como queimar o próprio museu.

Na prática, a ideia por trás dessa decisão parece ser a mesma que motivou a retirada de Westworld e The Nevers da Max em 2023: enxugar o catálogo para cortar custos. Isso porque, toda vez que uma série ou filme continua disponível no streaming, o estúdio precisa pagar uma espécie de “mensalidade” para o elenco e a equipe envolvida na produção.

Não dá pra negar que David Zaslav está tentando cortar gastos e manter a Warner nos trilhos, após uma série de fracassos, mas o problema é que isso está sendo feito sacrificando o próprio acervo do estúdio. É uma estratégia fria, que pode até funcionar no papel, mas que está causando a perda de parte da história e da identidade do estúdio.


Westworld e The Nevers
“Westworld” e “The Nevers” também foram vítimas dos cortes de gastos da Warner e acabaram sendo removidas do catálogo da Max, correndo o risco de se tornarem Lost Media

Demolição do prédio dos Looney Tunes

E como se não bastasse, o estúdio anunciou recentemente a demolição do edifício 131 — o pequeno prédio nos estúdios da Warner onde os Looney Tunes foram criados, parte importante da história da animação norte-americana. Em vez de preservar o local, o estúdio escolheu simplesmente apagá-lo, sem cerimônia e sem homenagem, transformando-o em um lote vazio para futuras filmagens da HBO. Nesse quesito, a Warner poderia aprender um pouco com a Disney, que faz questão de celebrar seu legado a todo momento. O problema vai além da nostalgia: é sobre preservar a história.


Edifício 131, dos Looney Tunes, nos estúdios Warner
O Edifício 131, localizado nos estúdios da Warner em Burbank, será demolido para dar lugar a uma nova base de gravações da HBO, colocando um ponto final em sua história

Uma luz no fim do túnel para os Looney Tunes?

Em meio a toda essa crise, alguns sinais contraditórios começaram a aparecer nos últimos dias. Na CinemaCon 2025, a Warner surpreendeu os fãs ao anunciar um novo longa dos Looney Tunes — o primeiro totalmente animado em 3D CGI, feito exclusivamente para os cinemas, e sem atores live-action. Junto dele, também foram revelados novos filmes dos Flintstones e de Tom & Jerry, todos com foco no público familiar e produzidos pela Warner Bros. Animation, em uma aparente tentativa de revitalizar suas IPs clássicas.

O anúncio pegou muita gente de surpresa, especialmente considerando as atitudes recentes do estúdio. Isso levanta uma série de dúvidas: será que Zaslav mudou de ideia em relação ao valor das suas animações? Ou estaria apenas testando o mercado — e, se os filmes não derem retorno, vão direto pra gaveta ou vende para quem quiser pagar? Pode ser que a Warner esteja, aos poucos, voltando a se arriscar em meio ao caos… ou talvez seja só um surto de lucidez temporário. De qualquer forma, ainda é cedo pra saber se esse novo movimento da empresa é real ou só mais uma jogada pra ver no que dá.

Isso é tudo pessoal?

Apesar das contradições, uma coisa é certa: os fãs dos Looney Tunes têm vivido tempos de incerteza. O estúdio parece perdido entre querer reviver a franquia e deixá-la de lado. O próximo teste de fogo será com Looney Tunes – O Filme: O Dia que a Terra Explodiu, uma animação que está prestes a ser lançada… embora você provavelmente nunca tenha nem ouvido falar dela, já que o estúdio sequer fez uma boa divulgação até agora.

Se esse filme não for bem, e se Coyote vs. Acme (mesmo salvo por outra distribuidora) não render como o esperado, é bem possível que os personagens sejam colocados de volta na gaveta. E o mesmo vale para o novo filme 3D CGI recém-anunciado — se fracassar, pode enterrar de vez a franquia.

O futuro da turma do Pernalonga também depende do cenário geral da Warner, que enfrenta um período turbulento. Apesar de alguns acertos como Duna, Beetlejuice 2, The White Lotus e o jogo Hogwarts Legacy, a maré não anda nada boa: MultiVersus e Esquadrão Suicida fracassaram nos games, Coringa: Delírio a Dois foi um desastre de crítica, e a nova série de Harry Potter já enfrenta rejeição antes mesmo de estrear. No meio disso tudo, a empresa parece cada vez mais dependente do sucesso do novo universo DC comandado por James Gunn. E se nem isso funcionar, talvez não sobre recursos (e paciência) para salvar o legado dos Looney Tunes.


Sem muito alarde, “Looney Tunes – O filme: O Dia Que a Terra Explodiu”, estreia em 24 de abril nos cinemas brasileiros (Reprodução/Youtube/ParisFilmes)

Como diria o Pernalonga: “Isso é tudo, pessoal?” Se depender da Warner, talvez seja mesmo. Ainda assim, fica a esperança de que, com a pressão do público e o olhar atento da mídia, o estúdio perceba que os Looney Tunes ainda têm apelo e merecem respeito ao seu legado. Se não for por nostalgia, que seja pelo bom senso comercial, afinal, ignorar esses personagens tão populares seria um erro histórico enorme para as animações.


E aí, você acha que a Warner vai finalmente dar o devido respeito aos Looney Tunes, ou os personagens vão ser deixados de lado? Conta pra gente nos comentários!

Joshua Diniz

Carioca e Caxiense, nascido em 2003, estudante de Comunicação Social- Jornalismo na UNISUAM. Obcecado por tudo que envolva Cultura Geek, games, super-heróis e universos fantásticos. Fã apaixonado de música Folk e Indie, de The Lumineers a Wallows.

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