“Thunderbolts” encara o vazio dos anti-heróis em uma trama sobre propósito e saúde mental

“Tem algo de errado comigo… um vazio”. É com essa frase de Yelena (Florence Pugh) que Thunderbolts dá o seu tom logo de cara. Em meio a uma fase turbulenta da Marvel, recheada de lançamentos medianos como Capitão América: Admirável Mundo Novo, Thunderbolts surge como um verdadeiro suspiro de alívio. Um filme que, enfim, parece um filme de verdade, bem dirigido, coeso, com personagens bem desenvolvidos, uma jornada emocional fechadinha e, acima de tudo, com um propósito.
Se existe uma palavra que define Thunderbolts, é propósito. Mesmo sendo parte do UCM, ele consegue ir além da fórmula batida do gênero de super-heróis, e entrega um filme que tem algo a dizer. É uma obra com alma, com identidade — algo que andava raro por aqui. Ele faz a gente lembrar por que se apaixonou por esse universo lá no começo: histórias com coração.
Thunderbolts tem coração e algo a dizer
No meio de um universo cada vez mais viciado em fanservice — e eu digo isso como alguém que surtou no cinema assistindo Deadpool & Wolverine e Sem Volta para Casa — Thunderbolts surpreende ao ir na contramão. É, talvez, o filme mais sincero, emocional e humano da Marvel desde Guardiões da Galáxia Vol. 3. Ele fala sobre o vazio interno de personagens quebrados, perdidos, lidando com traumas profundos e questões de saúde mental, mas que, mesmo assim, continuam tentando encontrar um motivo para seguir em frente.
Desde os primeiros minutos, o longa já deixa claro que não vai seguir a fórmula tradicional da Marvel. Aqui, a trama não gira apenas em torno de uma ameaça global, mas sim do vazio interno que consome cada personagem. O filme escolhe focar em figuras deslocadas que, apesar de tudo, ainda acreditam que podem se reencontrar. Ele desacelera, mergulha no psicológico e tem a coragem de olhar pra dentro, em vez de apenas mirar para o céu esperando explosões e batalhas grandiosas.
É uma narrativa repleta de alegorias sobre depressão, bipolaridade, traumas mal resolvidos e a constante sensação de não pertencimento — tudo isso sem perder o humor e a ação. Ele lembra muito a jornada das emoções da Riley em Divertidamente 2, com esses personagens tão quebrados e profundamente feridos, aprendendo a conviver e encontrando uma maneira de seguir em frente.

Emoção de WandaVision com a química de Guardiões da Galáxia
A trama gira em torno desse grupinho disfuncional de personagens deslocados, renegados e de certa forma, esquecidos — tanto dentro do MCU quanto pelo público (os restos do universo Marvel, basicamente). Bucky Barnes, Yelena Belova, Guardião Vermelho, John Walker, Fantasma, Treinadora e o novato Bob Reynolds acabam tendo seus destinos entrelaçados em uma história que vai muito além da tradicional fórmula: “grupo desajustado se junta pra salvar o mundo”.
Cada membro da equipe carrega seus próprios fantasmas, e o filme se destaca justamente ao explorar esse lado mais íntimo e vulnerável. Todos estão em busca de algo que os faça sentir pertencentes novamente, como se ainda houvesse um lugar no mundo para eles. Eles não estão tentando salvar o mundo — estão tentando salvar a si mesmos, e isso vale muito mais que qualquer trama genérica sobre uma ameaça cósmica ou multiversal.
A química e o entrosamento desse elenco é um dos pontos mais fortes. O grupo, que ninguém estava botando muita fé, funciona absurdamente bem na prática. É uma mistura da emoção de WandaVision, com a leveza e dinâmica de Guardiões da Galáxia. E olha, vale dizer: essa equipe aqui é mais conectada emocionalmente que os Vingadores originais. Porque eles não compartilham apenas batalhas, eles não viraram apenas colegas de trabalho. Eles compartilham dores. Dividem traumas. Vivem o mesmo sentimento de deslocamento, e isso cria laços muito mais fortes e reais.

Reencontros que valeram a pena
O time principal já é conhecido de outros carnavais, mas aqui ganham outra profundidade. Desde o anúncio do elenco, era esperado o reencontro entre Bucky (Sebastian Stan) e John Walker (Wyatt Russell), e os poucos diálogos entre eles não decepcionaram. A tensão entre os dois, ainda digerindo o que aconteceu em Falcão e o Soldado Invernal, é bem real, mas também há uma tentativa de seguir em frente. Apesar das diferenças, existe um respeito ou uma tolerância, forçada pela convivência no mesmo time.
Bucky, vivido pelo recentemente premiado com o Globo de Ouro, Sebastian Stan, segue em sua busca por redenção após sua jornada como Soldado Invernal, mesmo sem saber como chegar lá. Colocá-lo em uma equipe de “desajustados” como ele, foi uma escolha certeira, que torna sua trajetória ainda mais envolvente de se acompanhar.
Yelena, Bob e Alexei são o coração dos Thunderbolts
A Yelena Belova, interpretada pela queridinha da A24, Florence Pugh, continua sendo uma das melhores adições ao MCU, e aqui ela vai além, mostrando um lado mais vulnerável e emocional. Sua atuação é, sem dúvida, a melhor desde Gavião Arqueiro e Viúva Negra. A química dela com Alexei (David Harbour) é um dos pontos altos do filme, com a dinâmica de pai e filha aquecendo nossos corações. Inclusive, o nosso Jim Hopper de Stranger Things, consegue arrancar risadas toda vez que abria a boca com seu timing cômico maravilhoso, equilibrando o humor e a frustração escondida do seu personagem.
Ah, e o Sentinela de Lewis Pullman… dá vontade de guardar num potinho. O fascinante e adorável Bob, que quase foi vivido por Steven Yeun (Gleen de The Walking Dead), é um acerto de casting raro: instável, perigoso e, ao mesmo tempo, absurdamente humano. Ele oscila entre uma bomba prestes a explodir e um cara tentando juntar os próprios cacos, e é justamente isso que torna ele tão interessante. Não é só o “Superman da Marvel”, é o símbolo da bagunça emocional que o filme carrega. É impossível não se importar com ele e, ao mesmo tempo, não temer o que ele pode se tornar.

Vislumbres do futuro que (finalmente) fazem sentido
Depois dos acontecimentos daqui, não é nem um pouco surpreendente que quase todos os membros da equipe já tenham sido confirmados no próximo filme dos Vingadores (menos a Treinadora, haha). Sim, o tal “*” em Thunderbolts tem um significado. Sem dar spoilers, o grupo vive uma experiência transformadora, tanto emocional quanto em relação ao seu papel dentro do universo Marvel. Mal posso esperar para ver a dinâmica entre eles e os possíveis heróis reunidos por Sam Wilson para enfrentar a próxima ameaça multiversal… será no mínimo, bem interessante.
Diferente das cenas pós-créditos sem rumo que a Marvel entregou nos últimos anos (cof cof, Harry Styles e Blade em Eternos), Thunderbolts finalmente aponta uma direção clara e entrega a cena pós-crédito mais longa e interessante do UCM. Se você acha que o filme é só uma “aventura paralela”, é hora de repensar. A segunda cena pós-crédito tem desdobramentos que só descobriremos em julho deste ano.

Thunderbolts prova que a Marvel ainda sabe fazer ótimos filmes (e isso é um alívio)
Não é exagero dizer que Thunderbolts é um dos melhores filmes da Marvel nos últimos anos — o que, convenhamos, também não é tão difícil, considerando concorrentes como Thor: Amor e Trovão e Quantumania. Mesmo assim, a história dos anti-heróis já está no panteão dos grandes acertos da franquia, e prova que o estúdio ainda sabe fazer cinema de qualidade, quando quer. Basta dar tempo para os personagens respirarem, parar de correr atrás de fan service a todo custo e lembrar que o que realmente conecta o público são as emoções, não tramas vazias ou promessas para o futuro que nunca chegam.
O mais impressionante é como ele funciona quase como um filme independente da A24, e isso não é coincidência. Grande parte da equipe criativa veio de lá, algo que a própria Marvel fez questão de destacar no já icônico trailer “Absolute Cinema”. Ele se contenta em contar sua própria história, com começo, meio e fim, e entrega uma experiência completa, emocionante e divertida.
Um possível admirável mundo novo para o UCM
A sensação ao sair da sessão de Thunderbolts foi completamente diferente daquela deixada por Capitão América: Admirável Mundo Novo. Enquanto o novo filme do Capitão mal consegue sair do morno (pra não dizer medíocre), Thunderbolts representa, de fato, o início de um admirável mundo novo para a Marvel — um mundo que, com sorte, vai voltar a priorizar seus personagens em vez de apenas seguir um cronograma apertado. Pra mim? Já entrou fácil no top 10 do UCM.
Thunderbolts entrega o que os fãs queriam e, mais importante, o que os personagens precisavam: uma história feita com carinho, que respeita os arcos individuais e tem um coração enorme. É um daqueles filmes que nos lembra por que a gente ainda insiste em acompanhar o MCU, mesmo quando ele parece perdido. Ele entende que, antes de superpoderes e conexões interdimensionais, o que realmente importa são os personagens e suas jornadas pessoais. Já estou ansioso para reencontrar essa equipe em Doomsday.
Se a Marvel seguir esse caminho daqui pra frente, talvez as próximas fases tenham finalmente encontrado seu caminho. O longa chega aos cinemas nesta quinta-feira, 1 de maio.
Agora fica a pergunta: será que a Casa das Ideias vai aprender com esse acerto ou vai voltar pro piloto automático de sempre? Conta pra gente o que achou do filme nos comentários!
Só por essa critica excelente e completa, me deu MT vontade de assistir. EXCELENTE.