“Elio” é um filme fofo, mas isso é o suficiente?

“Elio” é um filme fofo, mas isso é o suficiente?

Estamos perto daquele período do ano, que é o terror dos pais, mas esperadíssimo pelos filhos: as férias escolares. Com isso, é comum que os grandes estúdios lancem suas apostas para fisgar a atenção dos pequenos que buscam algum entretenimento nessa época. Dessa maneira, a Pixar traz seu 29° projeto para os cinemas: “Elio”.

Uma coisa interessante sobre “Elio” é que nós nunca saberemos exatamente o que esse filme pretendia ser. Isso devido às inúmeras mudanças durante a produção, incluindo troca de diretor e grandes alterações no enredo. Tudo isso resultou em um orçamento de 300 milhões de dólares para que o longa terminasse, o maior da história da Pixar. Infelizmente, juntando com os custos de marketing, é muito difícil que a obra não termine como um fracasso de bilheteria.

Houve um tempo em que filme da Pixar era sinônimo de salas de cinema lotadas e merchandising vendendo como água. O impacto cultural de histórias como “Toy Story” ou os lucros com brinquedos de “Carros” faziam com que o estúdio fosse considerado imbatível e a casa das ideias mais geniais de todas. O problema foi que isso mudou.

Eu poderia dizer aqui que “Elio” não é um “típico filme da Pixar”, no entanto, essa frase já foi dita tantas vezes nos últimos anos que é difícil acreditar que o molde original da empresa ainda exista. Afinal, o que define um filme como “qualidade Pixar”? O que diferencia uma história dela de uma da Disney Animation? Talvez essas fossem perguntas simples de serem respondidas nos anos 2000, mas não são hoje.

“Elio” é um menino extremamente criativo e sonhador, porém sem amigos, que se sente solitário após o falecimento de seus pais. Vivendo com sua tia Olga, o menino acredita que não é querido por ela e que não pertence àquela casa. Por isso, ele começa a ficar obcecado com a vida em outros planetas e com a existência de alienígenas.

Quando finalmente consegue fazer contato com uma vida extraterrestre, ele não perde a chance e pede para ser abduzido. A grande reviravolta é que ele é confundido como Líder da Terra, fato que gera uma série de situações.

Originalmente, “Elio” seria abduzido de forma acidental e tinha uma postura muito mais contida e cautelosa em relação aos acontecimentos espaciais. Outra enorme mudança foi a transformação de Olga de mãe para tia do personagem.

Sobre essa decisão, as diretoras explicaram:

Um relacionamento entre tia e sobrinho é muito mais tênue. Há uma chance de que eles se separem e percam essa conexão para sempre. E aquela tensão para o público assistindo a esses dois personagens sem conexão, você realmente torcendo por eles, adicionou muito impacto.

Madeline Sharafian (“Toca”) e Domee Shi (“Red: Crescer É Uma Fera”) em entrevista.

É loucura imaginar que temos um trailer lançado há mais de DOIS ANOS com cenas e um contexto completamente diferente do que veremos nas grandes telas. Chega a ser assustador perceber que a Disney teve tanto tempo para fazer uma divulgação grande e convencer o público, e mesmo assim falhou.

Teaser trailer da primeira versão de “Elio”.

ME ABDUZA, POR FAVOR!

O mais triste nisso tudo é que “Elio” é muito bom!

A Pixar sempre foi bem-sucedida em fazer com que nos apaixonemos pelas suas criancinhas, mesmo quando elas estão em segundo plano como o Andy, em “Toy Story”, ou a Riley, em “Divertida Mente”. “Elio” é carismático, cheio de vida e uma grande fofura. Seria extremamente estressante cuidar de um garoto que mata aula para ficar esperando ser abduzido por aliens, mas conseguimos entender a frustração dele e torcemos por suas vitórias.

O drama do “você não é minha mãe”, apesar de tão comum e batido em Hollywood, funciona, e as reflexões sobre família e pertencimento são bem abordadas e emocionam. Algo que não foi bem-sucedido, por exemplo, no live-action de “Lilo & Stitch”.

E não é somente o enredo de Elio e Olga que abordam relações familiares. Há todo um plot de aceitação e de como crianças tentam se moldar aos desejos de seus pais pelo medo de não serem amados caso não cumpram o esperado deles. É bem bonito e serve como uma analogia para vários assuntos.

O final do longa, inclusive, pode tirar lágrimas dos adultos mais sensíveis. Falando em sensações, achei bem interessante como algumas cenas são “assustadoras” (no bom sentido) e podem deixar os pequeninos se agarrando nas poltronas.

Visualmente, a obra também é espetacular. A animação é belíssima, com muitas cores e um universo vasto, cheio de espécies diferentes e interessantes, ainda que apareçam por pouco tempo.

BOM DEMAIS PARA ESSE MUNDO

Existe uma possibilidade de que “Elio” receba o mesmo tratamento que “Elementos”. O filme de 2023 estreou de forma bem morna, mas foi aumentando em popularidade com o boca a boca.

O X dessa questão é que “Elio” não parece estar chamando a atenção das pessoas. É difícil entender o porquê a Disney insistir no tópico espacial para animações, pois historicamente não está dando certo.

“Lightyear”, baseado no personagem mais marcante do estúdio, fracassou. Não dá nem para dizer que “Planeta 51”, “Marte Precisa de Mães” e “Mundo Estranho” caíram no esquecimento, porque sequer foram lembrados algum dia. Até mesmo Wall•e não fez tanto dinheiro quanto outras propriedades da Pixar.

Vamos ficar na torcida para que o resultado dessa vez seja diferente. Cada vez é mais difícil ver filmes originais nos cinemas e outro fracasso só vai incentivar ainda mais as continuações e reboots.

Você está animado para “Elio”? Deixe nos comentários!

Lucas Martins

Nascido em 2002 na cidade do Rio de Janeiro, cresci com paixão pela literatura e pela música. Sou Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Unicarioca e futuro pedagogo pela UERJ. No meu tempo livre, gosto de assistir a filmes e acompanhar cada passo dado por Taylor Swift.

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